sexta-feira, maio 13

Houston, we have a problem!

Eu queria muito postar as trapalhadas da nossa viagem a Buenos Aires. As lembranças já estão se apagando. Mas minha amiga ursa está mantendo as fotos em cativeiro e não anuncia o valor do resgate. Sem fotos vai ficar sem graça. Penso em sequestrar a câmera dela num plano audacioso e vingativo. Voltei muito má. Voltei muito mala.

quarta-feira, abril 27

Memórias de uma mini viagem - Finalmente, o final.



- Bom dia amiga, dormiu bem?
- Mé(r)dio, e você?
- Como um bebê!
- Não sei como você consegue. Estava falando, falando e de repente, puf. Dormiu.
- Eu fiquei rolando, rolando.
- Mas você já está pronta para sair?
- Pois é, acordei cedo, encarei logo aquele musgo do box, abrí a janela, cumprimentei os pombinhos! Tudo muito bucólico. A fome é que está animalesca.
- Ah, então vou me arrumar tartarugamente rapidinho e a gente desce para tomar o café da manhã.
- Tá, vai logo.

tic, tac, tic, tac
tic, tac, tic, tac
tic, tac, tic, tac

- Amiga, você dormiu?
- Não, que nada, só um cochilinho. Vamos?
- Vamos, tô com fome também.

- É essa porta de bar de faroeste?
- Acho que é, entra.
- Bom dia!
- Bom dia, bom dia, bom dia, bom dia, bom dia, bom dia.
- Amiga, três casais e nós duas, quanto constrangimento.
- Todos com aquelas carinhas safadinhas.
- E nós, com carinhas de empadinhas.
- Estão olhando para nós, achando que somos casal também.
- Posso falar bem alto pra você: Amorrrr, quer uma banana?
- Se você fizer isso, eu te mato!
- Aí vai ser crime passional, com testemunhas.
- Cala a boca e toma o café pra gente sair daqui logo.
- Acho que eu vou pegar na sua mão, só pro povo gostar.
- Não me toca!
- Ah, você arranja esse lugar onde a garagem é uma caverna, no box há vários fósseis, os pombos fazem côco no parapeito da janela e o café da manhã é praticamente uma reunião de lua de mel e não quer deixar nem eu brincar um pouco!
- Brinca com seu sanduiche. E vamos embora logo.
- Chata.
- Come o mamão também.

- Amiga, foi engraçado lá no café.
- Vamos pular essa parte. Está tudo no carro? A gente não volta aqui. Vamos na Florália e depois para Itaipava. De lá a gente desce pro Rio.
- Deixa eu ver. Mala da amiga, mala da amiga, compras da amiga, compras da amiga e minha mochila. Está tudo sim.
- Então vamos.
- Tchau caverna! Amiga, eu queria levar cerveja Cidade Imperial para o meu genro. Como é daqui, acho que tem em qualquer birosca. Vamos comprar antes?
- Vamos. A gente para o carro no centro, comprar e segue.
- Sim, bem.

- Então, fui no supermercado, na padaria, no açougue, na farmácia, na loja de 1,99 e não tem nenhuma cerveja Cidade Imperial. Que coisa! Esse povo não bebe ou o que?
- Amiga, vamos procurar mais um pouco.
- Não, deixa. Eu compro no Zona Sul lá perto de casa.
- Ah, cretina! Se tem lá, porque essa palhaçada de comprar aqui?
- Nem eu sei, mas valeu pelos biscoitos que a gente comprou para levar. Não reclama, dirige bonitinha aí.
- Agora vamos na florália.
- Eu conheço uma Rosália.

anda, anda, anda
pergunta, pergunta, pergunta
sobe, sobe, sobe
ainda sobe
pergunta

- Sério, moço?
- É sim senhora, a florália não existe mais há uns bons anos. Compraram a propriedade.
- Ah, que pena. Obrigada então.
- Amiga, tá ficando velha héin.
- Cala a boca, coloca o cinto. Vamos para Itaipava. O Castelo a gente vai visitar hoje.

anda, anda, anda
anda, anda, anda

- Vamos direto pro Castelo, depois a gente passeia mais.
- Nãooooo! Vamos parar no mercado do produtor, tô com fome, por favor!
- Tá, vamos. Um pastelzinho não mata ninguém.
- Nem uma cervejinha.

- Nossa, como está cheio.
- É, me atraquei com o menino que serve para conseguir dois bolinhos.
- E aqui tem cerveja Cidade Imperial. Só de raiva, vou beber uma. Escura, por favor.
- Vamos ver a feirinha de orgânicos?
- Vamos.

- Amiga, nã acredito que você está levando cebola como lembrança da viagem.
- Ah, só aproveitei para fazer uma comprinha.
- Então, faz mercado logo.
- Não, vamos agora para o castelo.

- É pra cá?
- Não sei, acho que é pra lá.
- Vamos perguntar?
- Não, eu vou lembrar.
- A gente já passou por aqui.
- Quantas vezes? Mais de seis?
- Acho que sim. Moçooooo! Pra que lado fica o castelo.
- Pra lá. A senhora vai toda a vida medoooooo e quando chegar no quebra molas, vira a esquerda.
- Obrigadaaaaaa! Poxa, amiga. Você nem deixou eu agradecer direito. Tão bonzinho o moço.
- Eu conheço essa sua cara, vamos.

anda, anda, anda
anda, anda, anda
anda, anda, anda

- É lá, olha! Tá vendo a torre?
- Tô vendo!
- Vamos para a entrada! Você vai amar o castelo.
- Oi, bom dia senhor! Queremos visitar o castelo.
- Não vai dar não, está fechado?
- Como assim, fechado?
- Está fechado, vai ter um evento de moda aqui dentro. Estão montando.
- Ah, eu trabalho com eventos, posso entrar?
- A senhora trabalha nesse evento?
- Não.
- Então, não.
- Ah, moço, por favor! Minha amiga veio do Piauí, só para ver esse castelo.
- Não vai dar.
- Uma foto então?
- Só daqui de fora.
- Poxa moço.
- Até logo, voltem outro dia.

- E a gente ainda vai ter que passar de novo por essa ponte medonha.
- Se você gritar como fez na vinda, eu abro a porta e te jogo.
- E se você falar em mais algum lugar que eu vim do Piauí, vou jogar fora as bombas de chocolate que estão derretidas no banco de trás!
- As bombas da minha mãe!
- Agonizando. Melhor a gente aliviar o sofrimento delas.
- Não toca nas bombas! Olha a ponte!
- Ai, sacanagem. Que medo! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii..
- Para de gritar!
- Já passou?
- Já estamos quase na estrada. Vamos parar aqui para comprar uns tapetinhos.
- Amiga, tapete?
- São lindos, sempre que venho compro alguns.
- A mulher dos mil e um tapetes. Vou comprar um pro meu cachorro.
- Não fala na loja que é pro cachorro.
- Por que? Cachorro não merece?
- Fica chato.
- Chato é ver tapete. E não ver castelo.
- Vai ser rapidinho, vamos.


- Amiga, não acredito que passamos duas horas em uma loja de tapetes.
- Não foi só pelos tapetes, o papo estava bom. É importante se relacionar.
- Bem, agora quero me relacionar com a Casa do Alemão, pode ser?
- Você só pensa em comida.
- E bebida.

- Nossa, como está cheia.
- É a final da copa.
- Vamos torcer pra quem?
- Pro garçom ser rapido.

come, come, come.
bebe, come, bebe.

- Amiga, agora coloca o cinto e vamos voltar para casa!
- Ah, que pena, foi tão divertido.
- Foi mesmo, adorei.
- Acho que vou escrever as memórias dessa viagem.
- Foi tão rapidinha, vai faltar assunto.
- Você acha?

domingo, abril 24

Memórias de uma mini viagem - Quase final.

- Amiga, aqui é Nogueira.
- Ah sim, que ótimo. Vamos indo então?
- Ué, você não quer ver se tem um lugar pra gente comer e tomar um vinho?
- Amiga, tem certeza? Tá vendo a festa que está rolando? É uma festa íntima da população.
- Deixa de ser preconceituosa, vamos lá, festa do povo é sempre uma boa experiência.
- AMIGAAAA...OLHA AQUELE RESTAURANTE ALÍÍÍÍÍ...
- O QUE?
- ALÍÍÍÍÍ!
- VEM CÁ, VAMOS SAIR DO MEIO DA PRAÇA.
- Ai amiga, nunca fiquei tão dentro de uma caixa de som.
- Ui, que som alto, héin.
- É, e na trilha sonora do Calipso, quase não resistí. Foi por pouco que não saí rodopiando (mais piando do que rodando) e jogando o cabelo na cara do povo.
- Palhaça, vamos ver o restaurante.
- Olá, boa noite. Pode nos mostrar a carta de vinhos, por favor?
- Senhora, aqui temos esse vinho da casa, tipo mesa, especial.
- Não teria nada tipo vinho?
- Desculpe a minha amiga, ela fala coisas sem sentido quando está com fome.
- Desculpe moço, deixei meu remedinho no hotel.
- Bem, muito obrigada, acho que vamos dar mais uma volta antes de jantar.
- Mais uma volta? Na boa, se a gente for novamente na praça, vou subir no coreto e fazer coreografia.
- Obrigada moço!! Linda festa héin!
- Bicha falsa.
- Cala a boca.
- Bicha grossa.

... estrada, estrada, estrada...


- Correias, quer parar?
- Você que sabe, você que é brasileira e não desiste nunca. Eu me considero inglesa.
- Vamos direto para Itaipava então.
- Hum, chique!

... estrada, estrada, estrada...

- Amiga, chegamos.
- Vamos escolher um lugar.
- Esse é muito cheio.
- Esse é muito caro.
- Esse é muito feio.
- Esse tá fechado.
- Olha só que lugarzinho charmoso. Gostei da proposta.
- Proposta de uma noite no bar da cidade fantasma? Não tem ninguém no lugar.
- Ah, mas é uma gracinha e os preços são ótimos.
- Oh meu pai. Eu saio do Rio, do quentinho da minha cama, deixo mamãe, cachorro, problemas e aspirador de pó ... só pra vir jantar em um restaurante deserto em Itaipava... mas vamos, tá valendo.
- Aqui tem carta de vinhos!
- Ah, melhorou. Escolhe um pra gente, você que é entendida.
- Não fale assim, as pessoas podem entender errado.
- Que pessoas, cara palida?
- Garçom! Boa noite, tudo bem? Que vinho o senhor recomenda?
- Olá, tudo bom? Muito obrigado por vir me tirar do cochilo Que bom que nos escolheram. Tudo aqui é especial. Sugiro esse vinho uruguaio, excelente.
- Pode ser meia garrafa? É que estou dirigindo.
- Meia nada, pode ser inteira, moço. Eu preciso de um incentivo para continuar.
- E para comer? Qual é a especialidade?
- Todos as sugestões são ótimas.
- Então vou querer essa sopinha que lembra a sopa da minha avó.
- Amiga, você está tão sensível! Moço, eu quero essa outra, e traga a pimenta junto, porque hoje eu quero é sofrer!
- Senhora, o vinho.
- Está ótimo.
- Amiga, é vinho mesmo? Parece vinagre balsâmico.
- É mais rascante.
- É, muito mais. Mas a entendida é você.
- Aprecie o vinho.
- Fresca.
- Chata.


- Muito obrigada, adoramos tudo. Viremos almoçar aqui amanhã.
- É, se não pararmos em Nogueira antes, porque ela prometeu a mesma coisa lá.
- Não ligue, essa minha amiga é brincalhona.
- Sim, sou uma comédia.
- Até amanhã!
- Vamos amiga, pegar a estrada.
- Bora, eu vou no piloto automático, porque mandei ver no vinagre balsâmico delicioso vinho uruguaio.
- Eu vou falando porque assim não me dá sono.
- E quando é que você fica sem falar?
- Ai, estou louca para chegar no hotel, tomar um bom banho e ter uma ótima noite de sono.
- A parte do bom banho, só para lembrar, tem a cortina do box, o lodinho. Eu gostaria de um par de galochas.
- Estamos tão cansadas que nem vamos perceber.
- É né?
- Imagina, as camas quentinhas, uma boa noite de sono! É isso que precisamos.
- Bem, tenho uma boa estrada pela frente, para rezar por isso.
- Vamos, daqui a pouco estaremos lá.
- Ok Batman! Bat caverna, guarde nosso batmóvel!
- Palhaça, dorme e baba que é melhor.
- Quem sou eu para te desobedecer. zzzzzzzzz..... fiuuuuuuu......


- Ficamos bem na foto, héin!
- Quem é essa outra mulher?
- Sei lá, talvez a sua outra personalidade.
- Ah bom!

sexta-feira, abril 22

Memórias de uma mini viagem - parte 3.

- Amiga, como a gente vai embora agora? rolando? Comemos como se o mundo fosse acabar!
- Mas estava um delícia, diz que não!
- É, tanto que o botão da calça aberto jura que não vai fechar nunca mais.
- Vamos desgastar na Rua Tereza.
- Ai meu pai, tem certeza?
- Amiga, só uma voltinha, só quero comprar umas camisetas para meu filho.
- E umas blusinhas, uns casacos, umas echarpes (já que você coleciona), umas comprinhas de nada.
- Nãooo, deixa de ser chata! Pensei que seu mau humor era fome, mas ele sempre volta!
- Não é mau humor, é sobriedade. Sou quase uma inglesa.
- Tá, e eu sou a Mary Poppins!
- Então, eu sempre te falo isso.
- Vamos estacionar alí e a gente dá uma voltinha. Depois quero encontrar uma casa de doces sírios (ih, agora não lembro a nacionalidade dos doces) - deixa sírios mesmo, porque no final vamos acabar comendo a bomba de chocolate e tanto faz.
- Ah, com esse incentivo, como negar um pedido tão sincero?

Anda, anda, anda
Sobe, sobe, sobe
Desce, desce, desce

- Amiga, parabéns. Te ver assim só com duas sacolinhas é um alívio.
- Ainda mais quando uma é sua, sua fingida.
- Ah, que distraída.
- Vamos achar a loja dos doces.

Anda, anda, anda
Desce, pergunta, desce

- Tá cheia, héin.
- É, os doces são famosos.
- Mas tá cheia de homens, não tem nenhuma mulher.
- Agora tem duas.
- It's rainning men, aleluia!
- Para, se comporta.
- Amiga,os homens daqui são tão loucos por doces!!
- São nada, olha alí. Todos assistindo TV. É a semifinal da copa.
- Ah, tudo explicado agora. Vamos escolher qual bomba de calorias vamos enfrentar.
- Olha esse! E esse aqui, olha, olha!!! E aquele? Deve ser bom, porque só tem dois. Ops, nenhum agora.
- Moço, de que é esse aqui? E esse? E esse?
- Ai, não sei qual escolho. Moço, me dá um café?
- Amiga, vamos de bomba de chocolate?
- Uai, mas a gentenão veio comer doce sírio?
- Veio, mas vai que a gente não acha bom.
- É, melhor não arriscar. Moço! Duas bombas de chocolate.
- E mais seis para viagem!
- O que? Amiga, se controla.
- Essas eu vou levar para minha mãe.
- Mas e se elas não aguentarem e começarem a gritar desesperadas no carro?
- Aí a gente para o carro e compra uma cerveja pra você não comer os doces da minha mãe.
- Negócio fechado.
- Hummm, que delícia!
- Boa mesmo ! golllllllllll!
- De quem?
- Não sei nem que está jogando, mas foi gol. E é bom a gente socializar.
- Tá, te deixo aí,héin.
- Eu sabia que você queria uma desculpa pra comer as seis bombas.
- Deixa de ser chata, vamos logo. Quero ir no Palácio de Cristal.
- Ó senhor, que horas a gente descansa?
- Quando chegar em casa, amanhã.
- Então vamos logo.
- Amiga, você vai sentir frio só com essa jaquetinha.
- Vou nada, está um tempo ótimo!


- Hoje tem show aqui no Palácio de Cristal.
- É mesmo? Show de que?
- Não sei, mas é grátis.
- Maravilha, adoro essa palavra.
- É daqui a meia hora. Vamos esperar?
- Vamos, mas lá dentro, aqui está congelando.
- Ué, mas não estava um tempo ótimo.
- E está mesmo, minha roupa é que não está ótima.
- Eu te avisei.
- Para, eu sei. Para de rir.
- Quer voltar no hotel para buscar um casaco?
- Não, prefiro o frio. Não quero ver de novo aquela cortina de box, a não ser quando for absolutamente indispensável.
- Tem gente chegando para o show.
- É, quatro pessoas.
- Calma, é cedo.
- É, faltam oito minutos.
- Você tá inglesa demais.
- Vou alí fumar.
- Para com essa porcaria.
- Eu até quero, mas não vai ser hoje.

- Vem amiga, tá começando.
- Nossa, só tem seis pessoas. Nós e as quatro que chegaram.
- Cala a boca, fica quieta.
- Assim magoa.
- Tá, fica quietinha, vai começar.

Lê, lê, lê, lá, laia, laia

- Amiga, é pagode...
- É, mas faz um esforço.
- Aiiii, pagode não me encanta. E um valium na sua veia, encanta?
- Vamos ficar só um pouquinho.
- Vou fumar!
- Não, fica aí sentada e quieta!
- Ui, assim eu apaixono.
- Se você não parar de gracinha, vou levantar e pedir pros músicos para você cantar junto com eles.
- E eu vou cantar: Você, minha amiga de fé, minha irmã camaradaaaa!!! Não cansa de me levar para cada roubadaaaaa!!!
- Hahaha... nem ficar brava com você eu consigo.
- Até porque eu nem mereço.
- Vamos embora, vamos descobrir como é a noite de Petrópolis.
- Isso, garota!! É assim que se fala!

- Senhor, por favor!
- Amiga, larga o braço do homem!
- Pois não.
- Queremos ir para Valparaíso, o circuito gastronônico. O senhor pode nos ajudar?
- Claro, mas é bem difícil chegar lá.
- E para nós duas então, que somos tapadas de alma. Sim, mas se puder nos informar, ficaremos agradecidas.
- Vocês terão que dar uma volta alí, entrar à esquerda, contar duas esquinas, entrar à esquerda novamente, depois direita, direita, passarão por um canal, um viaduto, um mata burro e dois quebra molas. No final, dobrem na terceira à direita e verão uma placa indicando Valparaíso.
- Como aquela que está alí?
- É.
- Ah, muitíssimo obrigada.
- Por nada, boa sorte.

- Amiga, eu pensei que você ía chamá-lo para vir junto. Você se atracou com o braço dele!
- Foi só uma aproximação estratégica, para que ele nos desse um caminho seguro.
- Ah, e ele deu. Se seguirmos as dicas dele, vamos parar no inferno, seguramente. Ele ficou com raiva de você, toda se querendo.
- Ficou nada, um amor de pessoa.
- Pifff...

- Amiga, a gente seguiu todas as placas direitinho, não foi?
- Foi sim, tudo correto.
- E cadê essa bosta de circuito gastronômico?
- E eu que vou saber?
- Passamos por um Japa, um restaurante português e um pé sujo. Obviamente que eu ficaria no pé sujo, fácil. Mas como estou viajando com uma madame...
- Que pé sujo o que!! Eu quero esse circuito gastronômico!! Moço, hei moço!!!
- Lá vai ela atacar mais um homem!
- Moço, onde fica o circuito gastronônico de Valparaíso, por favor?
- A senhora está nele?
- É aqui?
- É.
- Obrigada.

- Amiga, que decepção.
- Eu também estou decepcionada. Doida por um chopinho.
- Mas a noite é uma criança e nós vamos encontrar um lugar legal. Se não tem nada bom em Petrópolis, vamos buscar onde tem.
- Me dá um medo quando você fala assim. Falando nisso, vou ligar para casa, saber se está tudo bem. Alô? Oi filha, como estão? O cachorro não comeu? Ai... faz aquela dancinha que ele gosta, quem sabe ele come! Bate palminha!!! Não funciona? Escuta, faz um caldinho, mistura na comida. Deixa eu falar com ele!!! Como assim a sua avó não quer tomar banho? Porque não posso falar com ele? Bota o fone na orelhinha dele! Bebêêêê!!! É a mamãe!!! Mamãe do cachorrão peludão!!! Come pra mamãe ficar feliz e poder beber em paz!! Come bebezinho!!! Espera filha, ainda não acabei de falar com ele. Alô? Filha? Amiga, caiu, deve ser porque estamos na estrada.
- É, deve ser.

quarta-feira, março 30

Memórias de uma mini viagem - parte 2.

- Amiga,o carro pegou! Eu acho que não foi nada demais.
- Ele deve ter estranhado a caverna.
- Ah, deixa de ser chata, resmunguenta. Agora vamos dominar Petrópolis.
- Bora então. Vamos pra onde? Comer?
- Que comer! Vamos passear. Vou te levar num lugar legal.
- Onde?
- Fica quietinha, é surpresa.
- Tá tia.
- Tia é sua mãe.
- Ah, boa lembrança, vou ligar pra casa, saber se está tudo bem.
- Não começa a monitorar, héin! Relaxa!
- Ommmmmmmm! Ommmmm! Alô? Oi filha, tudo bem? Sua avó está se comportando? Héin? Como assim bebeu soro fisiológico? Ahhhh, menos mal, confundiu. E o cachorro, tá bonzinho? Tá, vou parar de perguntar. Tá!! Mas se ele comer me liga? Meu coração fica mais tranquilo. Táááá!! Beijo, mamãe te ama!
- Amiga, você é doente.
- Ah, eu sei, mas fico tão preocupada, porque nada funciona sem mim lá em casa é complicado né?
- É, mas eles vão se virar.
- Vão sim. Coisa nenhuma, nada funciona sem mim. Estamos chegando?
- Já, já, vai prestando atenção.
- É aquele lugar alí? Bacana!

- É a Casa dos Sete Erros. Vê se encontra.
- Só de passar os olhos eu já ví uns 30 erros. Tá tudo caindo aos pedaços.
- Ai que mulher grossa! Você não tem sensibilidade?
- Claro que tenho! Mas que tá caidinho, tá.
- Vamos entrar.
- Tem que pagar para entrar aí?
- Deve ser só uma taxinha para contribuir com a manutenção, mendiga amiga.
- Então vamos terminar logo com isso conhecer essa casa interessante.
- Coloca as pantufas.
- Vou cair com isso.
- Fica quieta. Olha alí, vamos nos juntar ao grupo. Tem alguém guiando. Olá, bom dia!
- Bom dia, juntem-se a nós. Estava justamente explicando o significado dessa sala. Esta casa pertenceu ao meu tetravô e tem diversas curiosidades, mas como não tenho apoio do governo, estamos passando por dificuldades... somos 47 herdeiros, mas só eu cuido desse lugar... fazemos saraus aqui para arrecadar fundos...É um sufoco manter o patrimônio sem apoio de governo e iniciativa privada.. blá, blá, blá, muitos blás...
- Ai, desculpe.
- Amiga, se segura. Escorregou?
- Não, cochilei.
- Antipática.
- Não fica elogiando que eu gamo.
- Já está acabando, olha aquele espelho!
- Gostei da vista.
- Eu moraria aqui, fácil fácil.
- E eu não te visitaria jamais.
- Vamos embora. Vamos ver se o café está aberto.
- Ah, bateu fominha.. hahaha
- Não, é que já está ficando chato.
- É, está ficando insuportável.
- Tchau, obrigada. Adoramos tudo.
- Voltem sempre, venham para o sarau. Desculpem, mas é que não temos aqui nenhum apoio, eu tomo conta de tudo sozinho, blá, blá, blá, blás...
- Ah, voltaremos, claro!
- Tchau, obrigada!

- Vamos tirar fotos aqui na frente da casa?
- Vamos, pra gente lembrar, já que não vamos voltar.
- Ai, como você é má.
- Magoei.
- Magoa não, vamos tomar um café.
- Agora eu gostei.
- Mas não inventa de tomar cerveja agora. Ainda é manhã.
- Prometo me esforçar. E no almoço, você deixa?
- Vai depender do seu comportamento. Se tivesse sido mais simpática com o mocinho da casa...
- Amiga, nem você estava aguentando, confessa, vai. Ele é verborrágico, me lembrou o Luiz Fernando Guimarães, mas em miniatura e nada engraçado. Ele estava me deixando deprimida, falando da falta de apoio. Lembrei da minha vida, minha luta...
- Para, para! Vamos parar ali no posto que eu vou comprar uma cerveja pra você!
- Bingo! Amiga, é tão bom saber que você me entende!

segunda-feira, março 28

Memórias de uma mini viagem - parte 1.

Tudo começou quando:

-Amiga, vamos viajar? Vou alugar um carro e a gente vai passar o final de semana em Petrópolis. Tá um friozinho que a gente ainda aguenta (porque você sabe, artrite, reumatismo, tudo piora com o frio).
- Vamos amiga, dessa vez eu vou mesmo, sem conversinha. Deixa só eu negociar com os filhos a "troca do plantão" e te confirmo.
- Tá bom, não demora. Quero reservar a pousada.

...

- Amiga!! Eu vouuuuu! Quero nem saber, eu vou!
- Ah, que bom, agora me ajuda a procurar uma pousada, porque a que eu queria está lotada e parece que está acontecendo um evento na cidade, então a gente precisa arrumar um lugar pra dormir bem rápido.
- Mr.Google, can you help us? Olha, encontrei essa, essa e aquela.
- Deixa eu ver, pera aí. - Alô, é da pousada essa?
- Ei, você vai me deixar aqui na outra linha enquanto liga para as pousadas? Desliga que a gente se fala mais tarde.
- Fica quietinha, espera aí. - Oi, então, e tem disponibilidade? Ah, sei, entendo. Obrigada.
- Amiga, vamos ligar e quem conseguir primeiro avisa.
- Tá bom, mas você tem que perguntar tudo: se tem café da manhã, água quente, roupa de cama e banho, duas camas de solteiro, touquinha de banho, blá, blá, bla...
- Mas primeiro não é pra saber se tem vaga?
- É. liga lá.

...

- Amiga, consegui! A pousada eu não conheço e ninguém aqui nunca ouviu falar, mas olhei as fotos no site a me pareceu bem simpática. Acessa lá www.pousadaaquela.com.br
- Ah, bonitinha! Mas o que é aquele buraco embaixo, uma caverna?
- Não, é a garagem.
- Ahhh.
- Melhor, a gente já sabe que a casa é construída sobre uma rocha. Dá segurança.
- É, dá.
- Então Amiga, é essa. Amanhã eu pego o carro e te pego aí cedo, pra gente pegar a estrada.
- Combinado, vou arrumar minhas coisas.
- Leva casaco, héin!
- Podexá, beijo.
- Beijo.

...

- Amigaaaaaa! Tô chegando aí, pode ir pra portaria!
- Ebaaaaa, fui!
- Oi amiga, agora vamos pegar a estrada!
- Vamos, estou tão contente de dar essa relaxada! Vai ser ótimo.
- Vai sim, vamos! Coloca o cinto.

... estrada ... blá blá blá blá .. toca o celular

- Atende para mim Amiga, acho que é da pousada.
- Ih, alô?
- Oi, tudo bom? Não é nada demais, mas queria saber uma coisa de vocês. A reserva é para vocês duas, não é isso?
- Sim, é isso.
- Então, eu gostaria de trocá-las de quarto, não me leve a mal, nós aqui não temos nenhum problema, então gostaria de colocá-las num quarto com cama de casal, rola?
- Desculpe, não rola.
- Ahhh, desculpe eu, entendi mal.
- Sim, entendeu, mas tudo bem. Se puder deixar o nosso quarto com duas camas de solteiro (onas), agradecemos.
- Ok, estamos esperando por vocês.

...

Pergunta aqui, pergunta alí, pergunta de novo, faz ao contrário, finalmente avistamos a caverna garagem.

- Oi, tudo bem? Fizeram boa viagem?
- Ótima, obrigada.
- Desculpe pela ligação, é que achei que...
- Tudo bem, mas não. Somos espadas! (Oi?)
- Bem, aqui está a chave. Onde está a bagagem?
- A minha está aqui, comigo. A da minha Amiga, você teria um guindaste?
- Ah, não liga, ela é exagerada.
- Eu sou exagerada e você traz para um final de semana uma mala, uma mochila, uma bolsa e vários agasalhos pendurados no braço. Fora o lanchinho que ficou na carro.
- Vamos, vamos, não podemos perder tempo.

- O quarto não está muito em dia, héin.
- É, mas se você não estiver apertada, deixa pra ver o banheiro depois.
- O que tem lá?
- Nada não, só não é uma Brastemp. Na verdade, nem um bom tanque.
- Gente!! A cortina do box é cinza mesmo, ou é lodinho?
- Amiga, deixa isso, vamos sair e passear.
- Melhor mesmo. Vamos dominar Petrópolis.
- Isso! Vamos, cadê o seu casaco?
- Essa jaqueta.
- Mas eu não te falei pra trazer um casaco.
- Ah, eu não sinto esse frio todo. Você que tá ficando velha.
- Aguarde, ainda hoje tirarei uma foto de você batendo queixo.

De volta à caverna garagem. A viagem continua assim que o carro pegar.


legenda: A mochila preta é da amiga exagerada. A malinha vermelhinha é "uma das" da outra amiga.

quinta-feira, março 17

Tempo para falar de amigos!

- Alô?
- Amiga, tudo bom?
- Oi amiga, quanto tempo!
- Pois é, eu estava aqui arrumando os papéis da minha carteira e encontrei uma entrada de cinema. Lembra quando fomos assistir Sexto Sentido?
- Nossa, faz tanto tempo assim? Gente, perdí a noção!
- Pois é, amiga, passa rápido, e eu sinto tanta falta das nossas conversas.
- Eu também, por que a gente não consegue se ver mais?
- É mesmo, ainda outro dia lembrei de você, me deu uma saudade... Estava caminhando no calçadão e ví uma escolinha de volei nova. Lembra do nosso volei?
- Não tem como esquecer, era bom demais.
- ô, se era. A ressaca da quarta feira era doce, de tão bom que era.
- A gente devia voltar.
- Vamos voltar!
- Então, vamos!
- Amiga, você tem visto a outra amiga? Vamos chamá-la também?
- Não tenho visto, mas conversamos outro dia pelo msn. Como se fôssemos de planetas diferentes.
- E como ela está?
- Está bem, com saudades também.
- Poxa, ela bem que podia aparecer.
- É podia.
- E o que a gente vai fazer no seu aniversário?
- Sei lá, esse ano não estou muito animada.
- Poxa, vamos fazer alguma coisa!
- Ai, não sei, vamos ver. Me dá uma preguiça...
- Tá bem amiga, então a gente se fala.
- Fala sim, não some.
- Imagina, estou sempre aqui.
- Eu também, e você nem aparece.
- Vamos marcar, estou com muita saudade.
- Eu também, era tão bom quando a gente sempre saía.
- Ah, era bom mesmo.
- Dê um beijo em todo mundo aí. Te amo, amiga!
- Pode deixar, aí também. Te amo também, sumida!
- Beijo.
- Beijo.

tic tac tic tac tic tac

- Amiga!!
- Menina, que coincidência, faz 15 minutos que falamos!
- Pois é, eu desliguei com você e saí rapidinho para ir à farmácia. Parece que vai chover.
- Então, e eu vim comprar pão de queijo, aceita?
- Quero unzinho, obrigada.
- Ai amiga, que alegria te ver.
- Eu também, que coisa boa.
- Vamos ver se a gente se encontra mais.
- Vamos. Eu táva fazendo as contas, você sabia que no ano passado a gente só se viu 3 vezes?
- É mesmo? Caramba, como é que pode?
- Pois é, nem eu sei.
- Deve ser a distância que nos atrapalha: Uns bons 50 metros e um sinal para atravessar.

Moral da estória: Amigos podem ser preguiçosos, relapsos, ocupados, avoados, atarantados. Mas na hora do encontro, tudo volta para o lugar. Amigos transcendem.



Amiga dos 50 metros, te amo!
Amiga de níver hoje, te amo! Parabéns! Seja sempre minha amiga, por favor! embora mais velha, :o))
Amiga de lutas e batalhas, te amo!
Amigas e amigos de toda a vida, amo vocês! E qualquer dia a gente se fala.

terça-feira, março 15

Eu quero ter um milhão de amigos!

E quem não quer?
Eu não tenho tantos assim, mas os que tenho, ah, valem alguma coisa!
Se eu puder dizer que em toda a minha vida foram eles que, cada um na sua especialidade, proporcionaram as mais carinhosas lembranças que ainda tenho, e isso for alguma coisa, eles valem. Se eu souber reconhecer que até os meus amigos que eu não achava que eram amigos me ensinaram a valiosa lição de avaliar como eu não "gostaria de ser" e isso for alguma coisa, eles valem. Se eu conseguir ordenar os pensamentos e rostos que estão vindo nesse momento, e isso valer alguma coisa, então eles são meus amigos.
Hoje eu quís falar pouquinho de quem vale muito.

sexta-feira, fevereiro 25

Quando um não quer, o outro insiste!

- Esse vestido não fica bem em você.
- Mas é pra ficar em casa, tudo bem.
- Não vá sair assim.
- Não vou, já disse que é pra ficar em casa, está calor, eu estou pra lá e pra cá.
- Não sei como você não vê que essa roupa está esquisita. Está mais curto atrás.
- Quanto você quer pra ficar quietinha? Tá certo, olha a TV, o programa que você gosta.
- Você nunca teve olho bom para roupa.
- Quer lanchar?
- Não, quer que eu conserte essa bainha?
- Não!!! Deixa a minha roupa em paz!
- Uma mulher não pode ficar assim, desleixada.
- Mas só tem nós duas aqui e eu estou arrumando as coisas.
- Olha, não vá sair assim.
- Você tá com vontade hoje, héin.
- Vontade de que? Não vou sair, vai chover.
- Tá bom.
- Mas tira esse vestido, está horrível.
- Deixa meu vestido, mãe!
- Eu sempre te falei e você não aprendeu.
- Ai, minha paciência está no final.
- Roupa feia, sem forma.
- Mãe, alivia!
- Não vou falar mais nada, você que sabe.
- Isso!
- Mas eu não saio com você assim.
- Não vai sair não, eu prometo.
- Mas não vou mesmo. Imagina, podendo sair arrumadinha, bonitinha...
- Mãe, me larga!
- Eu? Eu nunca me metí na sua vida.
- Então tá bom. Chega, né?
- Sua cabeça é seu mundo.
- ...
- Mas imagina, chega alguém aqui e você com esse vestido.
- Não vai chegar ninguém.
- Mas se chega, logo vai pensar: Essa mãe não ensinou nada pra ela.
- Ah, é isso que te preocupa?
- Não, nada me preocupa. Eu não me visto assim, toda relaxada. Minha consciência está tranquila.
- Pode ficar, não vão te culpar.
- Nem podem. Se culparem, vou contar o gênio que você tem.
- Mãe, sério. Já tá enjoando.
- Isso que dá, não obedece ninguém.
- Eu tenho 45 anos!!!
- E ainda não aprendeu nada. Mas agora eu não vou ensinar mais, porque não aguento seu gênio.
- Tudo bem, não precisa mais ensinar.
- Mas me dá um desgosto...
- O que?
- Esse vestido, você sair assim.
- Eu não vou sair agora, estou aqui com você.
- Ah comigo pode ficar toda esculhambada.
- Mãe, não é isso.
- Tudo bem eu não ligo mesmo.
- Olha, vamos fazer o seguinte: eu vou tomar banho pra gente não brigar e depois você vai comigo na farmácia pra comprar um remédio seu que está acabando.
- Não sei se eu vou.
- Tá bom, a gente resolve.
...
...
- Vamos lá então? Depois a gente compra um lanche e volta.
- Mas você trocou de roupa de novo? Olha, você precisa se tratar, arrumar um marido. Que fogo é esse? O que é que está acontecendo? Tá querendo me enganar?
- Não, eu troquei o vestido que você detestou.
- Eu? Imagina se eu me meto na vida de alguém. Você está querendo briga, mas eu não não! Sai pra lá, não vem não! Eu tô quieta no meu canto e você vem me provocar. Sempre foi assim, com esse gênio ruim. E tem mais, eu não ía dizer, mas agora vou: Esse vestido está horrível em você! Chata!

quinta-feira, fevereiro 17

Enquanto isso, no mundo dos negócios...

- Panificadora, bom dia!
- Bom dia, tudo bom? O senhor produz pão de queijo sabor goiaba?
- Como?
- Ah, eu também estranhei quando ouví isso na reunião, mas é um "conceito" novo que o departamento criou e tacou no meu colo pra eu me virar, digo, me passou essa oportunidade de desenvolver o projeto.
- Mas pão de queijo de goiaba deve ser horrível!
- É, deve ser sim, mas encaixa perfeitamente ao conceito de "moradia tranquila= pão de queijo, minas, uai, trem...e acolhedora= bichinho da goiaba", entendeu?
- Não.
- Deixa pra lá, é bem difícil mesmo, até porque, foram necessárias vááááárias reuniões conceituais e incontáveis brainstorms.
- Pra senhora vir me pedir pão de queijo de goiaba?
- O senhor faz ou não faz?
- Quantos você vai querer?
- Pela demanda que estamos projetando, uns 20 mil.
- Ah, então eu faço. Faço até de couve.
- Mas a verba é curtinha, curtinha. Talvez só faça uns 200.
- Tá de brincadeira comigo?
- Antes estivesse moço. Olha que eu tentei. Sugerí pão de mel, pão de batata, pão de ló, pão duro... tudo que me pareceu acolhedor, ou não. Mas sabe, departamento de marketing é assim mesmo, todos tão criativos.
- Então, deixa eu ver aqui. Pra 20 mil, sai a 20 centavos cada um. Pra 200, sai a 20 reais.
- Nossa moço, mas que diferença.
- Nossa moça, mas que trabalheira você vai me dar só para atender ao seu cliente que quer pão de queijo de goiaba! É pegar ou largar. Pagamento adiantado e coleta do produto aqui. Tenho medo de colocar um produto desses no caminhão de entrega e levar uma multa por carregar explosivos.
- Pelo menos o senhor tem senso de humor.
- Tenho nada, quero é faturar. Me liga quando for fazer a encomenda que eu te passo o número da conta para depósito.
- O senhor não pode vender a prazo? Sabe o que é? É que o cliente só paga depois, em 30 dias, e a gente fica adiantando tudo. Não podemos fazer uma parceria?
- Minha filha, parceria eu só faço com a minha caixa registradora. E eu vou adiantar dinheiro pra empresa rica?
- É, não vai. Deixa que a gente adianta então.
- Tá, tchau, tenho mais o que fazer.
- Tá bom, muito obrigada pela gentileza, eu te lig...tu tu tu tu tu


- Oi cliente querido, bom dia!
- Oi, fala logo, porque o dia hoje está um inferno! (e eu queimando nesse mármore)
- É sobre os pães de queijo sabor goiaba! Acho que conseguí!
- Ah, claro. coisa básica, como não conseguiria?
- É, foi relativamente fácil, só fiz 36 ligações e passei 4 horas buscando, mole pra nós!
- E aí? Já estão prontos?
- Não, que nada, vou te passar o orçamento antes, porque o panificador cobra adiantado.
- Como cobra adiantado? ele sabe pra quem está vendendo?
- Sabe e está cag..ndo.Não, a gente preserva o nome do cliente.
- Dá uma olhadinha no orçamento!
- Nossa, que roubo!
- É que ele explicou que tem que usar bloridrato de trusoneda cor de tijolo para estabilizar a mistura, para ficar homogênea, e isso é caro.
- Fala pra ele colocar farinha que é a mesma coisa!
- Ah, não posso falar para ele como trabalhar, não é? como você faz comigo
- E essa taxa sua, o que é isso?
- É quanto a gente cobra para trabalhar para você, digo, para seu projeto.
- Nossa, eu pensei que vocês fossem parceiros, mas vejo que não são!
- Claro que somos (mais da nossa caixa registradora), mas temos um custo operacional (porque já sabemos que não pagam pelas nossas cabeças) . Afinal, também trabalhamos por lucro.
- Que olho gordo! Já trabalham comigo, se reportam diretamente a mim, sabem das minhas idéias geniais em primeira mão... e ainda querem lucro! Olha, a concorrência vive aqui me implorando um chance héin!
- A gente melhora essa taxa.
- Bom mesmo.
- Então, vamos fazer os pães de bichinho de goiaba?
- Pães de queijo sabor goiaba!
- Isso, bora?
- Veja com o fornecedor se ele faz 200 pelo preço unitário de 20 mil.
- Ele não faz, não é bobo.
- Tenta, às vezes ele é.
- Sem chance.
- Então vamos fazer só os 200 mesmo.
- Ok, vou encomendar.
- Obrigado...tu tu tu tu tu

- Oi cliente, tudo certo! Os pães de queijo sabor goiaba chegam amanhã na primeira hora, enfeitadinhos, com um bichinho em cima.
- Ué, minha assistente não te ligou?
- Não, por que?
- Porque nós mudamos todo o conceito da campanha e agora vamos precisar de risóles em formato caramujos, para remeter a uma residência recheada e deliciosa. E dentro, um casal de camarões.
- Entendi. Mas e os pães de goiaba já pagos?
- Você vai arcar com esses prejuízos, porque está errada de não me ligar a cada meia hora para perguntar se eu lí e-mails e, se não os lí, ler para mim. Deveria até me ligar para saber se esquecí de falar algo. Minha filha, eu sou do departamento criativo dessa empresa, não posso ficar me preocupando com detalhes, entendeu?
- Perfeitamente!

segunda-feira, fevereiro 14

É direito fazer pedido de remédio?

-Defensoria Pública, bom dia! (Dezembro de 2010)
- Olá, bom dia, eu soube que minha mãe pode obter os medicamentos para tratar a Doença de Alzheimer através do governo, gostaria de saber quais são os procedimentos.
- Ah, é pedido de remédios (oi,pedido?)? Anote o endereço e os documentos para levar: Av. General Justo 335, mas olha, a porta da frente está quebrada, você tem que vir pelos fundos. Os documentos: xerox de identidade, CPF, comprovante de residência, de renda, laudo médico e receita. Você vai representar a sua mãe? Se for, leve todos os seus também. Mas agora, só em janeiro, a partir do dia 7.
- Ok, obrigada. E qual é o horário de atendimento?
- De 8h às 16h, todos os dias, de segunda a quinta.
- Obrigada.

-Oi, aqui é a Defensoria? (Janeiro de 2011)
- É pedido de remédio (oi de novo)?
- Sim, é pedido!
- Sobe aqui a escada, no final do corredor.
- Obrigada.
Cena: Duas atendentes e uma criança, todas na mesma mesa, todas com o mesmo sono, foi a impressão que ficou.
- Oi, quero dar entrada na ação para medicamentos.
- Ah, é pedido? Tem que descer e falar com a Fulana. Qual é o seu nome?
- Cidadã. Sem sobrenome, nem padrinho.
- Tá, vai lá embaixo.
- Obrigada.

- Oi, estive lá em cima, fui orientada a procurar pela Fulana.
- É pedido de remédio? Beltrana, atende essa aqui? (porque agora estou vendo os produtos da Avon que chegaram e estão embaixo da mesa).
- Oi, eu trouxe a documentação que informaram por telefone.
- Ih, está tudo errado. Tem que ter o CID da doença, o CID de cada medicamento, e trazer o laudo e a receita em 6 vias originais, porque a defensora não gosta de conferir xerox.
- Ah, sei, Mas e se o médico não quiser escrever 12 folhas?
- Aí complica.
- Ok, obrigada.

- Oi Dra, tudo bom? Então, eu estou tentando obter os medicamentos que a minha mãe usa, já que eles ultrapassam o salário mínimo que ela recebe de aposentadoria, mas preciso muito da sua ajuda. Lá na Defensoria me orientaram blá blá blá...
- 6 originais? Ah, não mesmo! Isso é preguiça daquele povo. Vou fazer 2 originais da receita e do laudo e tá muito bom! Isso já está me enchendo.
- Ah tá, obrigada, obrigada mesmo.
- Imagina. Mas olha, eu acho que você vai voltar aqui. Boa sorte.

- Oi, eu estive aqui na semana passada e a Beltrana me deu essas orientações assim assim e está tudo aqui, tudinho.
- Deixa eu ver... você não trouxe a declaração de hipossuficiência financeira?
- O que é isso? Sua colega não me falou nada.
- Ela sempre esquece. (ah bom!)
- Pega essas duas aqui e leva pra sua mãe assinar. O resto está certinho.
- Ok, obrigada.

- Oi, a Cicrana está?
- Não, ela não veio hoje.
- E outra pessoa pode atender?
- É pedido de remédio?
- É, né?
- Me passa seu nome e aguarda sentadinha alí. Vai me dando os documentos para conferir.
- Ah, muito obrigada!
- Cadê o seu comprovante de residência?
- É o mesmo, eu moro com ela.
- Mas precisa do seu.
- Mas os medicamentos são para ela. Sou só a procuradora dela.
- Não sei, vou perguntar pra defensora. Olha hoje está demorando pra caramba, vou logo te avisando. Essa defensora é nova e está com mania de ler o processo inteiro antes de liberar.
- Ahhh... que coisa. Isso é bom ou ruim?
- Depende do seu ponto de vista.
- Ok.
- Ela "liberou" seu comprovante de residência, vamos lá! Não sei nem por onde começar.
- Quer que eu te ajude?
- Não, só aguarde. Nossa, sua mãe toma 8 remédios? Fica muito caro? (não, eu vim PEDIR porque minha vida está chata e busco mais emoções).
- É, fica um pouco caro sim.
- Ela não tem mais filhos pra dividir?
- Não, sou filha única.
- Muito ruim ser filha única.
- Depende do ponto de vista.

tempo...tempo...tempo...tempo...tempo...

- Olha, consegui: confere aqui. Essa é a liminar para você levar lá no IASERJ para esses três remédios. Você dá entrada lá e eles te ligam quando os remédios estiverem liberados.
- Nossa, que bom. Tem prazo?
- Prazo não tem.
- Ah...
- De lá, vão te encaminhar para o local onde é para pegar.
- Ok.
- Essa é a ação. A gente vai dar entrada, daqui há 5 dias você vem buscar o cartão branco. Aí você vai saber qual é a vara. E depois disso, não tem mais nada com a gente.
- Ok, obrigada.

- Oi, tenho aqui uma liminar para medicamentos. (Fevereiro de 2011)
- Segundo andar.
- Obrigada.
Cena: uma caixa de papelão com senhas em papelão também.
- Número 9 (cheguei cedo).
- Oi, bom dia. Trouxe essa documentação da defensoria.
- Minha filha, não é bem assim. Você tem que preencher um cadastro, trazer xerox de todos os documentos, a receita separada, o laudo separado. E olha, mandar o seu médico preencher esse papel aqui. Só te aviso uma coisa: De cada 10 médicos, 8 preenchem errado.
- Então, por favor, me explique uma coisa: o que fui fazer da defensoria, está errado?
- Ah, minha filha, aquelas estagiárias lá da defensoria não querem nada com nada. Elas sabem tudo o que é pra fazer, mas só enrolam. Elas querem mais é despachar o sujeito de lá.
- Poxa, fui lá 3 vezes.
- Não quero te desanimar não, mas aqui você deve ter que vir mais umas 3.
- A D. Cidadona é a Sra. sua mãe?
- É, a Sra. minha mãe.
- Se eu fosse você, colocava tudo junto na ação.
- Mas então por que a defensora não colocou?
- Porque já te falei, ninguém quer nada lá.
- Obrigada.
- Vai com Deus, minha filha.

- Defensoria, boa tarde.
- Oi, eu blá blá blá e por final, ele me falou para colocar tudo na ação.
- Mas é uma doença ou mais de uma doença?
- É uma doente, um laudo e 8 remédios.
- Então, agora é lá na vara onde vai correr a ação. Quando a senhora pegar o número do processo, liga pra gente pra saber onde é a vara.
- Obrigada.
- Não tem de que. Posso ajudar em mais alguma coisa?

Em tempo. O número do CNPJ do Governo do Estado do Rio de Janeiro é mais ou menos assim xx.xxx.xxx/xxx1-71. Dei risada lendo o número colado nas pilastras da Defensoria.
Acho que rí cedo demais.

domingo, janeiro 30

Questão de sobrevivência

"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto". (Caio Fernando Abreu)

Frase linda, libertadora, definitiva.
Desejei seguir e também conseguir. Estou na briga, ainda afastando, descolando.
Onde vou ser feliz já é outra passada.
Se volto? Talvez.
Tudo faz sentido.