sexta-feira, abril 22

Memórias de uma mini viagem - parte 3.

- Amiga, como a gente vai embora agora? rolando? Comemos como se o mundo fosse acabar!
- Mas estava um delícia, diz que não!
- É, tanto que o botão da calça aberto jura que não vai fechar nunca mais.
- Vamos desgastar na Rua Tereza.
- Ai meu pai, tem certeza?
- Amiga, só uma voltinha, só quero comprar umas camisetas para meu filho.
- E umas blusinhas, uns casacos, umas echarpes (já que você coleciona), umas comprinhas de nada.
- Nãooo, deixa de ser chata! Pensei que seu mau humor era fome, mas ele sempre volta!
- Não é mau humor, é sobriedade. Sou quase uma inglesa.
- Tá, e eu sou a Mary Poppins!
- Então, eu sempre te falo isso.
- Vamos estacionar alí e a gente dá uma voltinha. Depois quero encontrar uma casa de doces sírios (ih, agora não lembro a nacionalidade dos doces) - deixa sírios mesmo, porque no final vamos acabar comendo a bomba de chocolate e tanto faz.
- Ah, com esse incentivo, como negar um pedido tão sincero?

Anda, anda, anda
Sobe, sobe, sobe
Desce, desce, desce

- Amiga, parabéns. Te ver assim só com duas sacolinhas é um alívio.
- Ainda mais quando uma é sua, sua fingida.
- Ah, que distraída.
- Vamos achar a loja dos doces.

Anda, anda, anda
Desce, pergunta, desce

- Tá cheia, héin.
- É, os doces são famosos.
- Mas tá cheia de homens, não tem nenhuma mulher.
- Agora tem duas.
- It's rainning men, aleluia!
- Para, se comporta.
- Amiga,os homens daqui são tão loucos por doces!!
- São nada, olha alí. Todos assistindo TV. É a semifinal da copa.
- Ah, tudo explicado agora. Vamos escolher qual bomba de calorias vamos enfrentar.
- Olha esse! E esse aqui, olha, olha!!! E aquele? Deve ser bom, porque só tem dois. Ops, nenhum agora.
- Moço, de que é esse aqui? E esse? E esse?
- Ai, não sei qual escolho. Moço, me dá um café?
- Amiga, vamos de bomba de chocolate?
- Uai, mas a gentenão veio comer doce sírio?
- Veio, mas vai que a gente não acha bom.
- É, melhor não arriscar. Moço! Duas bombas de chocolate.
- E mais seis para viagem!
- O que? Amiga, se controla.
- Essas eu vou levar para minha mãe.
- Mas e se elas não aguentarem e começarem a gritar desesperadas no carro?
- Aí a gente para o carro e compra uma cerveja pra você não comer os doces da minha mãe.
- Negócio fechado.
- Hummm, que delícia!
- Boa mesmo ! golllllllllll!
- De quem?
- Não sei nem que está jogando, mas foi gol. E é bom a gente socializar.
- Tá, te deixo aí,héin.
- Eu sabia que você queria uma desculpa pra comer as seis bombas.
- Deixa de ser chata, vamos logo. Quero ir no Palácio de Cristal.
- Ó senhor, que horas a gente descansa?
- Quando chegar em casa, amanhã.
- Então vamos logo.
- Amiga, você vai sentir frio só com essa jaquetinha.
- Vou nada, está um tempo ótimo!


- Hoje tem show aqui no Palácio de Cristal.
- É mesmo? Show de que?
- Não sei, mas é grátis.
- Maravilha, adoro essa palavra.
- É daqui a meia hora. Vamos esperar?
- Vamos, mas lá dentro, aqui está congelando.
- Ué, mas não estava um tempo ótimo.
- E está mesmo, minha roupa é que não está ótima.
- Eu te avisei.
- Para, eu sei. Para de rir.
- Quer voltar no hotel para buscar um casaco?
- Não, prefiro o frio. Não quero ver de novo aquela cortina de box, a não ser quando for absolutamente indispensável.
- Tem gente chegando para o show.
- É, quatro pessoas.
- Calma, é cedo.
- É, faltam oito minutos.
- Você tá inglesa demais.
- Vou alí fumar.
- Para com essa porcaria.
- Eu até quero, mas não vai ser hoje.

- Vem amiga, tá começando.
- Nossa, só tem seis pessoas. Nós e as quatro que chegaram.
- Cala a boca, fica quieta.
- Assim magoa.
- Tá, fica quietinha, vai começar.

Lê, lê, lê, lá, laia, laia

- Amiga, é pagode...
- É, mas faz um esforço.
- Aiiii, pagode não me encanta. E um valium na sua veia, encanta?
- Vamos ficar só um pouquinho.
- Vou fumar!
- Não, fica aí sentada e quieta!
- Ui, assim eu apaixono.
- Se você não parar de gracinha, vou levantar e pedir pros músicos para você cantar junto com eles.
- E eu vou cantar: Você, minha amiga de fé, minha irmã camaradaaaa!!! Não cansa de me levar para cada roubadaaaaa!!!
- Hahaha... nem ficar brava com você eu consigo.
- Até porque eu nem mereço.
- Vamos embora, vamos descobrir como é a noite de Petrópolis.
- Isso, garota!! É assim que se fala!

- Senhor, por favor!
- Amiga, larga o braço do homem!
- Pois não.
- Queremos ir para Valparaíso, o circuito gastronônico. O senhor pode nos ajudar?
- Claro, mas é bem difícil chegar lá.
- E para nós duas então, que somos tapadas de alma. Sim, mas se puder nos informar, ficaremos agradecidas.
- Vocês terão que dar uma volta alí, entrar à esquerda, contar duas esquinas, entrar à esquerda novamente, depois direita, direita, passarão por um canal, um viaduto, um mata burro e dois quebra molas. No final, dobrem na terceira à direita e verão uma placa indicando Valparaíso.
- Como aquela que está alí?
- É.
- Ah, muitíssimo obrigada.
- Por nada, boa sorte.

- Amiga, eu pensei que você ía chamá-lo para vir junto. Você se atracou com o braço dele!
- Foi só uma aproximação estratégica, para que ele nos desse um caminho seguro.
- Ah, e ele deu. Se seguirmos as dicas dele, vamos parar no inferno, seguramente. Ele ficou com raiva de você, toda se querendo.
- Ficou nada, um amor de pessoa.
- Pifff...

- Amiga, a gente seguiu todas as placas direitinho, não foi?
- Foi sim, tudo correto.
- E cadê essa bosta de circuito gastronômico?
- E eu que vou saber?
- Passamos por um Japa, um restaurante português e um pé sujo. Obviamente que eu ficaria no pé sujo, fácil. Mas como estou viajando com uma madame...
- Que pé sujo o que!! Eu quero esse circuito gastronômico!! Moço, hei moço!!!
- Lá vai ela atacar mais um homem!
- Moço, onde fica o circuito gastronônico de Valparaíso, por favor?
- A senhora está nele?
- É aqui?
- É.
- Obrigada.

- Amiga, que decepção.
- Eu também estou decepcionada. Doida por um chopinho.
- Mas a noite é uma criança e nós vamos encontrar um lugar legal. Se não tem nada bom em Petrópolis, vamos buscar onde tem.
- Me dá um medo quando você fala assim. Falando nisso, vou ligar para casa, saber se está tudo bem. Alô? Oi filha, como estão? O cachorro não comeu? Ai... faz aquela dancinha que ele gosta, quem sabe ele come! Bate palminha!!! Não funciona? Escuta, faz um caldinho, mistura na comida. Deixa eu falar com ele!!! Como assim a sua avó não quer tomar banho? Porque não posso falar com ele? Bota o fone na orelhinha dele! Bebêêêê!!! É a mamãe!!! Mamãe do cachorrão peludão!!! Come pra mamãe ficar feliz e poder beber em paz!! Come bebezinho!!! Espera filha, ainda não acabei de falar com ele. Alô? Filha? Amiga, caiu, deve ser porque estamos na estrada.
- É, deve ser.

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