domingo, fevereiro 28

Porque é vital saber o seu valor!

Ah, que delícia ouvir um elogio, uma boa coisa dita a respeito do que a gente é, ou pensa que é, ou se esforça para ser.
Sem dúvida, um prazer imenso, um carinho, um conforto incrível. Ser aceito, se parte integrante, se destacar, ser revelado…
Mas, e se nada disso acontecer, de onde virá o alimento, a massagem, a confirmação das qualidades? Num mundo de tantas competições e engodos, como fazer para sustentar certezas mínimas, demarcar um espaço próprio, uma identidade válida, sem o aval alheio, sem o espelho que revela e compara?
Ainda pior, com a mesma intensidade que nos chega uma manifestação de orgulho, também pode vir uma humilhação, uma ofensa, uma calúnia, ou simplesmente uma verdade que ainda não se está preparado para digerir. E o efeito contrário vem com tudo, desmantelando, desorganizando, desestruturando toda uma construção erguida a duras penas, frágil e impotente por depender do sustento alheio.
Valorizar-se não é inchar e se vangloriar de qualidades, nem tampouco lacrar os ouvidos e o entendimento às críticas e julgamentos.
Valorizar-se é construir um teto firme para a alma, que a proteja das chuvas de injustiças e também dos ventos traiçoeiros das adulações. Valorizar-se é descobrir o valor que se possui e não permitir negociação abaixo, nem sob a maquiagem da ilusão vaidosa.
Não acreditar em tudo o que é dito a seu respeito, não se contaminar com o veneno lançado, não se viciar em promessas de beleza e perfeição.
Ao contrário, conhecer e muito bem suas limitações, imperfeições e fraquezas, e, ainda assim, se respeitar e entender a necessidade tantas vezes ignorante e tola de querer ver-se por outros olhos, outro olhar.
Essencial é viver e conviver com os afins, os diferentes, os afetos, os obrigatórios, os superiores, os dependentes, enfim, com o mundo onde se habita.
Essencial é garantir respeito e respeitar como garantia e compromisso de reciprocidade.
Essencial é transformar um comentário idiota em poeira que o vento leva, guardar na memória uma palavra amiga, um conselho de quem nos quer bem.
Ainda que se diga o contrário, ainda que se demonstre em exagero, ainda que o espelho esteja turvo e os apelos de fora gritem forte, vital é descobrir, proteger, fazer crescer e compartilhar o próprio valor. Fora disso, tudo é ruído.
Publicado em Conti Outra em 28/02/2016

sábado, fevereiro 27

A vida é troca infinita

Se for para trocar ideias, compartilhar a tarde, o vinho, o chocolate, as risadas, conte comigo! Se for para oferecer um abraço, um bom e paciente ouvido, um conselho amigo, um guarda-chuva emprestado, tudo bem, conte comigo. Se for para assistir um filme, partilhar a pipoca, as críticas e opiniões, defender as preferências, confessar medos e segredos, ainda assim, conte comigo.
Conte comigo como eu conto contigo, para beber da fonte da vida sem fechar a torneira nem tampouco provocar enchentes. Conto contigo para andar ao lado, lembrar de mim quando fico para trás, dar aquele toque necessário quando acelero demais.
Conte comigo com liberdade, sem reservas nem melindres. Se ouvir uma negativa, entenda que faz parte da vida. Da mesma forma tentarei entender também, porque, muitas vezes esperando ouvir um sim, fui embora para casa carregando um não, ou, um nada. E, acredite, sobrevivi.
Conto contigo para enxergar a vida por outra ótica, comparar com a minha forma de ver, tirar o melhor dos dois mundos e usufruir dessa vantagem de crescer junto.
Só não conte comigo se tiver intenção de absorver, de sugar, de pegar para si o que me pertence, de me descompensar, de exigir o que não foi oferecido. Para todas as opções anteriores, permaneço emocionalmente indisponível.
E espero com todas as forças que, se for eu a pedir qualquer regalia abusiva, que me depare com uma grande placa com letras pintadas em vermelho: Emocionalmente indisponível.
Não se pode nem se deve colocar qualquer emoção a serviço de carências alheias, de sentimentos mimados, desejos que não sabem ser contrariados. Para apelos obtusos, portas fechadas e nenhuma culpa.
A vida é troca infinita. É um ganha-perde saudável, sem exploração nem extorsões. De outra forma não é troca, é barganha. É escravidão, coação, chantagem, sadismo. E estar emocionalmente disponível para quem barganha e negocia a vida alheia, é pular de cabeça em um poço vazio, andar por caminhos escuros e frios, jogar-se no nada, deixar-se levar.
O desafio é enorme, mas com um pouco de bom senso e moderação, vamos aprendendo pouco a pouco a dosar a disponibilidade das emoções. Como no mundo dos negócios, um acordo só é bom se o for para ambas as partes. Se assim não for, que suba a placa vermelha indicando total indisponibilidade.
Publicado em Conti Outra em 27/02/2016

quinta-feira, fevereiro 18

Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível

É possível que alguém acredite no bom senso num mundo como o de hoje?
E na palavra de outro alguém? E nas intenções? Na vontade de fazer o certo?
Geralmente se acredita no que convém, no que parece mais com a verdade e senso de justiça que se conhece.
O mundo encolhe ou se expande no ritmo de cada respiração, de cada arquear de ombros ou dobra de joelhos.
Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível. Um mundo que me convém, que me permite olhar para tudo e me fixar somente no que me interessa, um mundo que eu não conheço mais pelos jornais, mas também não faço uso de suas notícias para vomitar revolta nem desesperança.
Escolhi o mundo que se relaciona comigo, que me oferece ferramentas para crescer, instrumentos para trabalhar. Não olho mais para o mundo distante que não faz parte da minha existência. Não quero entender de tudo, não preciso saber de tudo, não me interessam competições, gincanas, corridas. Só encararia a corrida contra o tempo, de tanto gostar do meu mundo, mas em briga perdida não se entra.
Eu escolhi o mundo de pessoas que olha profundamente nos olhos de seus semelhantes, de gente que se esforça para ser mais do que um espantalho enfeitado no milharal, que não tem medo de abrir mão de coisas em favor de pessoas, que coloca o dinheiro no seu devido lugar e que acredita que poder mesmo só tem que é livre!
No meu mundo, ninguém maltrata gente nem bicho.  Nesse mundo a gente troca fácil uma festa pomposa por aquela reunião barulhenta de amigos, com direito a confissões e gargalhadas até a barriga doer.
E quem vai me condenar por escolher e decorar o meu mundo da forma como quero vê-lo? Mais fácil batalhar essa utopia do que tentar se enquadrar no mundo como ele é. Mais lucro mudar um milímetro de mundo, do que comprimir uma vida inteira no milímetro que conseguiu vislumbrar, de muito longe.
E só para terminar, no mundo que eu escolhi viver, há dor, sofrimento e morte. Mas, sendo nele tudo possível, é possível também que eu entenda que tudo isso é perfeitamente normal, não coisa de outro mundo.
Publicado em Conti Outra em 18/02/2016

quarta-feira, fevereiro 17

Corações sujos

Sair de casa com a roupinha cheirosa, sapato limpo, tudo arrumado e no seu lugar, e, no meio do dia já parecer um boneco amarrotado, é da vida. Para permanecer impecável, não se pode sair da vitrine. Esse é o ciclo suja-limpa-suja de todos os dias, com o corpo, as roupas, a casa, as ideias, as meias, as palavras.
A sujeira em si não é nada, é fuligem, poeira, voa para longe num sopro mais forte. A permanência da sujeira é que a fortalece, cria visgo, adesão, crosta.
Um sapato muito sujo ainda pode ser lavado e esfregado até que fique limpo novamente, embora com manchas e partes desgastadas.
Para um coração sujo não há alvejante no supermercado. Para décadas de depósito de poeiras e sujeiras, não há equipamento que aspire nem lave.
Alguns corações são sujos porque se permitiram virar depósito. Outros porque sentiram preguiça de efetuar as limpezas regulares, não encarando o lixo acumulado. Outros ainda talvez nem reparem, talvez pensem que está bem assim, que é normal olhar pela janela “cinzenta” e não enxergar o céu azul.
A limpeza de um coração exige renúncia. Renúncia ao lixo que virou escudo, cortina, fechadura.
Um coração sujo contamina os demais, exala veneno e ar tóxico, nem sempre porque quer, mas porque não sabe fazer diferente.
Como uma casa inabitável, um coração sujo precisa de faxina, de reforma, de uma grande caçamba na porta que caiba tudo o que não deve ficar mais, de um incinerador de mágoas e cobranças, de uma boa mão de tinta depois de lixado e lavado.
Não se condena uma roupa ou um sapato ao lixo porque estão sujos. Tampouco uma casa. O trabalho pode parecer impossível. E para alguns corações, é impossível mesmo dar conta sozinhos.
É preciso pedir ajudar. Família, amigos, profissionais, estudos, viagens, músicas, exemplos… Todo recurso é bem-vindo.
Ajudar um coração sujo a reaver sua cor e seu vigor é contribuir para a limpeza e manutenção do seu próprio coração, é entender o que quer dizer esse símbolo usado mundialmente para expressar o amor.
Publicado em Conti Outra em 17/02/2016

domingo, fevereiro 14

Que toda criatividade possa ser festejada

Criar, conceber, idealizar, copiar de uma outra forma, dar uma pincelada pessoal na tela que começa a amarelar…
Usar os recursos disponíveis e o momento de inspiração para produzir arte, soluções, respostas, provocações, inquietações, devaneios…
A criatividade é um mundo maravilhoso e acessível a todos, muito embora creiamos que seja dom de poucos e só seja justo validar as realizações mais notáveis.  Uma lástima, já que ela se apresenta em situações tão mínimas quanto delicadas e sutis.
A criatividade exige que deixemos a timidez de lado um pouco. Ela ordena que experimentemos algo sempre diferente, que escolhamos caminhos nada óbvios e, portanto, insondáveis à primeira vista.
Em troca, ela nos devolve uma resposta original, uma certeza individual, a sensação de que o impossível é uma enorme mentira inventada pela preguiça.
Quando sondamos soluções pelo olhar criativo, nos alegramos, sentimos esperança, nos acreditamos inovadores, desbravadores, empreendedores.
A criatividade é uma aliada, uma parceira multitarefas, e quando mais a convocamos, tanto mais rápido ela se apresenta com desenvoltura e beleza.
Aquela velha máxima que quase todo mundo já ouviu na vida: “você não consegue fazer isso ou aquilo”, é certamente uma porta batida na cara da criatividade. Ela até quer sair, mas não encontra uma brecha, é sufocada e não consegue se expressar. E as consequências são tristes, rotineiras, repetitivas, enfadonhas, desesperadoras.
Vida sem criatividade é vida sem cor, sem perfume, sem emoção. Se a vida passar por uma crise, é possível que desça toda a escadaria do sofrimento antes de cogitar uma saída criativa. Se a vida estiver sem graça e previsível, é certo que passará voando, como uma folha ao vento, sem sequer ser notada.
Gosto de pensar na criatividade como um bando bem grande de vagalumes que vivem dentro das mentes. Quanto melhor o ambiente para viverem, mais se multiplicam e iluminam as dúvidas da existência. E clareiam soluções.
E se não há solução pelo caminho da direita, deixemos a criatividade mostrar as outras possibilidades. Há surpresas inesperadas aguardando para serem festejadas!

quinta-feira, fevereiro 11

Que bom que te decepcionei

Você que esperava uma lealdade cega, aquela obediência conformada, nenhuma contrariedade e jamais uma negativa… Decepcionei? Que bom.
Você que contava com uma dedicação integral, uma consideração infinita, a compreensão do incompreensível… Decepcionei? Que bom.
Você que tinha absoluta certeza de que suas fotografias, lembranças, maus feitos, covardias e ausências seriam guardados na mais cor de rosa caixinha de recordações… Decepcionei? Que bom.
Você que cresceu e inchou, se tornou maior do que a porta por onde deveria passar e ainda assim acreditou que seria uma obrigação te seguir… Decepcionei? Que bom.
Você que manipula fraquezas, que trata relações como via de mão única, que pede muito e pouco oferece, que não mede prejuízos para satisfazer vontades, não se aproxime porque vou te decepcionar, com muito gosto!
E se em algum momento a dúvida sobre fazer o certo ou o errado se instalar, uma dica valiosa é pensar nas pessoas que precisamos decepcionar, pois do contrário seremos como elas, o que não admiramos, não queremos, não devemos.
Decepcionar é um bom termômetro.  Decepcionar a vaidade, o egoísmo, o egocentrismo, a avareza, o desamor… Se estamos nesse caminho, a coisa esquenta, o jogo fica mais justo, os retornos acontecem, os vampiros ficam para trás. E o julgamento fica mais claro. A capacidade de separar o que interessa, o que vale, quem fica, quem sai, quem soma, quem vale zero.
Tudo é questão de critério e também de responsabilidades. Se escolhermos a face da lamentação, seremos muitas vezes decepcionados. Não esperávamos, não poderíamos acreditar…
Mas, se preferirmos a versão da ação, de bancar um julgamento decepcionante, então estamos na posição de quem sabe com quem lida e, por não partilhar das certezas, decepciona e segue a vida.
E a vida segue, tanto para os que agradam como para os que decepcionam.
A escolha é pessoal e cada um tem seus motivos. Há quem prefira perder a liberdade, as forças, a saúde, a razão.
No meu caso, e se o seu caso de alguma forma me fere, decepcionei? Que bom.

Publicado em Conti Outra em 11/02/2016

terça-feira, fevereiro 9

Ansiedade, a fome que não sacia

Não é possível esperar as notícias chegarem, não é cabível aguardar respostas e decisões, não é viável deixar simplesmente o tempo passar.
Aquela fome que vem repentina e cortante, insuportável, dominante. E com pressa. Se alimenta vorazmente de perguntas, de promessas, certezas, suores, bruxismos, caretas, suspiros…
A ansiedade é aquela fome que consome o bom humor, o bom senso, totalmente sem paladar, que nada sacia e volta sempre com mais fúria.
Algo vai acontecer, é uma certeza. É imperioso adivinhar, solucionar, remediar.
O tempo vai mudar, é preciso prevenir, se antecipar.
Fazer estoques, levantar muros, cavar trincheiras, comprar cadeados, correntes, munição, bombardear o coração com taquicardias insuportáveis.
– Respire, segure o ar, solte. Novamente! Está passando, não vê? Aliviando, te soltando, liberando…
É um conforto, como uma sopinha quente, mas lá vem a fome de novo. A sensação foi tão boa que, por medo de deixá-la passar, a ansiedade voltou correndo, como um bebê carente para o colo dos pais.
Ansiedade é fome mas também é alimento. Alimento para neuroses que nos empenhamos em engordar, alimento para paranoias que amamentamos com carinho, um doce fabuloso para oferecer ao medo de se colocar em equilíbrio perante os desafios da vida.
Ansiedade é veneno. Veneno que quando não mata, fragiliza cada fibra, contamina a alma, descompassa o corpo. Gera tiques, tremores, síndromes e consome a vida de uma forma nervosa e danosa.
E tudo um dia chega ao fim, e, se ainda não chegou é porque ainda não está no fim, a ansiedade ainda é uma grande mentirosa, pois que promete a adivinhação e prevenção do final.
Grande e voraz, essa fome insaciável necessita imediatamente de tratamento, de educação, de conhecer o seu lugar e somente atuar nos momentos inevitáveis.
Em todos os casos contrários, ela nos devorará, sem piedade.
Publicado em Conti Outra em 09/02/2016

sábado, fevereiro 6

Deixei de ser satélite para virar planeta!

Antes eu orbitava os outros planetas, aqui e ali, totalmente entregue às forças de atração, e me chocava, me machucava, esbarrava, perdia a rota e a linha.
Manter uma órbita é coisa complicada se isso depende de órbitas alheias e fenômenos que não nos cabe explicar ou entender. É íntimo, é particular, não é da conta de ninguém. Ser satélite é ser coadjuvante de uma trajetória já plena e autônoma, é apertar o passo para acompanhar um ritmo indiferente, é frequentar uma estrada como presença convidada mas não essencial.
E se isso não for um problema e não trouxer outras ânsias ou frustrações, que seja assim por muito tempo.
Desse jeito eu escolhi ser por uma boa porção da vida, mas, como todo mistério da vida e dos aprendizados, em algum momento achei que ser satélite era pouco. Achei até que era cruel. Orbitei por tempo demais em planetas egoístas e narcisos; escolhi a luz alheia para iluminar o caminho, pensando ser seguro e confortável; entreguei decisões e direções a interesses que afinal não me incluíam, apenas me permitiam andar por perto.
E um dia, um ano, um momento do tempo que não se prende a nada nem ninguém, escolhi sofrer a dura e penosa transformação, a morte do que era para o nascimento do que queria ser. E por vezes voltei às órbitas antigas e conhecidas, já sem desenvoltura e cada vez trombando mais e mais com a realidade que nunca me apoderei.
Por fim, e ainda bem, aquela transformação sonhada e ensaiada um sem número de vezes aconteceu, e, alegremente deixei de ser satélite para me tornar um planeta.
Os desafios são outros agora, assustadores e de tirar muitas noites de sono:
Definir uma órbita própria; não criar dependências nocivas; ter o tempo como aliado e não como inimigo; valorizar e cuidar de cada conquista particular; ser um lugar confortável para quem quiser se chegar e somar; e, gerar a própria luz, sem descuidar dos ciclos de sombras e escuridões necessárias.
Agora, como planeta, é possível ver com clareza as estrelas e luas que sempre estiveram por perto, embelezando o céu de quem escolhe a sua própria órbita.
Publicado em Conti Outra em 06/02/2016

quarta-feira, fevereiro 3

Se console, mas não se conforme

Das tantas e tantas inquietudes e inconformidades que experimentamos na vida, jamais conseguiremos resolvê-las na totalidade. É praticamente impossível almejar esse resultado, levando em conta todas as variáveis envolvidas: As outras partes, o humor do momento, a palavra usada, a palavra calada, a palavra ouvida, a decisão de ir ou de ficar, a obediência ou a falta dela, os recursos, as carências…
Para algumas situações conseguimos conforto, consolo. Em abraços amados, em ombros queridos, em palavras amigas, lágrimas escondidas, mensagens nunca enviadas. Um alívio para a famosa e dolorosa pressão no peito, o escape da panela de pressão que atormentava a tempos com seu chiado constante. Na verdade, se não houver consolo, não haverá contrapartida e só conseguiremos enxergar a perda, o prejuízo. Mas consolo não é solução. É analgésico, é gelo na torção, é lenço de papel, é um sorriso confiável para seguirmos em frente.
Não há parada permanente no consolo de uma dor. Isso é ilusão.
Depois do consolo há o entendimento, a contagem dos danos, a reparação dos erros, o perdão dos malfeitos alheios, o pedido de perdão pelos próprios malfeitos, a nova tentativa, a forte e inalienável experiência conquistada a duras e dolorosas penas.
E, se o que queremos é seguir adiante, partimos mais fortes e mais corajosos a cada queda, no começo mancando, patinando, derrapando. A atitude definirá a porção de medo que terá permissão para nos acompanhar.
E, sem aviso ou qualquer dica, em algum momento estaremos inteiros novamente, lutando ainda com mais força e destemor, pois se há um reconhecimento positivo em todas as perdas e dores da vida, é essa saudável inconformismo que nos impede de ficar estagnados nas almofadas fofas e suaves dos breves consolos da vida.
Viver requer muito mais do que essa frágil troca.
Há uma infinidade de combinações e possibilidades de caminho. E que haja sempre um gelo e um lenço de papel oferecido por mãos amigas para enfrentarmos os tropeços desses tantos caminhos.
Consolar-se sim, faz bem, mas passa. conformar-se, nunca!

Publicado em Conti Outra em 03/02/2016