terça-feira, dezembro 27

Se despedir bem é mais importante do que impressionar ao se apresentar

As primeiras impressões são fortes, reveladoras, mas não são nem de longe as que ficam. O convívio muda tudo, rearruma, bagunça, junta ou despedaça.
A imagem de um primeiro encontro é, sem dúvida, lembrança de cor mais nítida, mas cabe aos encontros seguintes alimentar ou deixar morrer a primeira impressão.
E, afinal, a gente vê o que está sentindo na ocasião. A gente acessa o que tem disponível no momento. Não é uma postura ou uma palavra que nos darão o juízo de uma apresentação, e sim como estamos receptivos ou não ao novo que está sendo apresentado.
Se apresentar bem é um excelente começo, mas realmente é só o começo, e o caminho é tão longo quanto profunda pretende ser a relação.
Agora, as despedidas… Quase sempre deixam tanto a desejar, tanto a resolver, tanto a perguntar. E ao contrário de uma chegada, a despedida é intenção de um final, um rompimento.
Poucas são as pessoas que incluem despedidas dignas nas suas vidas. Menos ainda são as que fazem desse ultimo contato, um ato cordial.
Por que as catarses, desabafos, verdades contidas, humilhações e revelações são guardadas para as despedidas?
Por que deixar uma impressão tão desapontadora ao sair de uma vida? E, pior, por que não levar em conta um possível arrependimento? Como engolir tantas palavras e agressões depois de ditas e lançadas?
Se despedir bem não é para qualquer um. Implica em olhar nos olhos e prestar justificativas, ainda que desconfortáveis; obriga a encarar mais uma vez quem não se quer ver nunca mais; ordena que as ofensas sejam caladas e faz com que se deseje um futuro melhor a quem não foi um bom presente.
Mas essa é a boa e a verdadeira despedida. Fora disso, somente tentativas infantis de deixar borrões na vida alheia.

Os vilões que nos apontam caminhos. Gratos por eles!

Tem gente que sem saber nos faz enorme bem. Sem querer, literalmente. A intenção poderia ser das piores, disfarçada de uma ironia, um toque de covardia… Era para machucar, marcar, carimbar.
Mas, para quem sabe como a banda toca e, ao invés de reclamar do barulho do bumbo, aproveita para dançar, pega a intenção no ar e já a transforma em vantagem para não cair de novo na mesma armadilha.
A ação dos vilões vem sem avisar. De repente, num encontro, o jogo começa e, num lance bem rápido, já está lançada aquela afirmação, a pergunta camuflada de inocência, as reticências que deixam lacunas para a imaginação preencher.
Isso é coisa que pega qualquer um de sobressalto. Os rápidos já reagem e devolvem a jogada; os prudentes analisam; os sensíveis sofrem; os raivosos rebatem.
Mas o que não se pode negar é a experiência conquistada com esse momento tão insuportável. No final das contas, alguém tentando nos fazer perder o rebolado, acaba mostrando caminhos que jamais pensaríamos se estivéssemos nos deleitando na zona de conforto. O momento é sempre ruim, mas o depois é ótimo!
Esses vilões que se nutrem do desconforto alheio, tentam ocultar o seu próprio desconforto de maneira muitas vezes velada, fingida, disfarçada. Noutras, com atitude rude, debochada, irônica.
A tentativa de dar a rasteira vem com tudo, mas, como toda força que,disparada em potência máxima não encontra nenhum obstáculo que a retenha, a tentativa de derrubar também perde força e razão quando não recebe o que esperava de retorno.
Os vilões que apontam caminhos são tão úteis quanto tolos, e, para eles, nossa inteira gratidão pelo tempo dedicado ao nosso aprendizado.
E, se a carapuça serviu, customize do seu jeito e reveja as atitudes! Somar é sempre melhor do que dividir.

sábado, dezembro 24

Não se iluda, ninguém é tanto assim!

Ninguém é tão feliz quanto faz parecer, nem tão confiante quanto alardeia, tampouco tão atraente como acredita ser. E ninguém é tão infeliz quanto pensa ser, nem indiferente ou sensível, sequer influente ou desprezível. Ninguém é tanto assim.
Os superlativos tem sido usados sem critério, talvez movidos pelo desejo intenso de destaque ou exclusividade. E acredite se quiser, tem gente que enfatiza até mesmo o que deveria passar a vida combatendo.
Quem nunca ouviu ou disse algo recheado de “mais”, “demais” e até “absurdos”? Mas mais do que o que? Mais do que quem? Mais de quanto?
E para que serve essa corrida louca para se distanciar da faixa do aceitável, do comum, do que justamente facilita a desigualdade e dissipa a desunião?
Que mania louca é essa de construir trampolins cada vez mais altos e inacessíveis, somente para os poucos que se arriscam a obter notoriedade por seu foco em ser mais do que o outro? E depois do pulo, não estamos todos na mesma piscina?
Estamos ensinando nossas crianças a serem mais do que precisariam ser. Estamos convocando a competição em todos os momentos e setores da vida.
E todos sabemos que ninguém é tanto assim. É bom não ser demais. É ótimo ser simples. Realizar tarefas complexas, ok. Alcançar grandes objetivos, também. Mas não é preciso ser tanto assim. Torna-se chato para a platéia, cansativo, antipático.
Bom é fazer, realizar, festejar, comemorar e descansar. Sem alardear!
Quem está junto já sabe o valor.
Quem não está, não precisa saber.
E na dúvida, é bom lembrar que aquela dor de barriga, quando vem, não livra nem quem é tanto assim.

quinta-feira, dezembro 22

Não tem como amar sem admirar. Não mesmo!

Um grande e recorrente contra senso é a gente achar que ama uma pessoa que a gente nunca admirou ou não admira mais. Como poderia? Como acreditar que o amor pode ser tão incoerente que permanece em um lugar onde não se sente confortável e alimentado?
Claro que há milhões de relações onde a admiração mútua há muito já partiu, mas nesse caso, ao menos nas minha crenças, já não é mais o amor que habita a casa. Pode ser a preguiça, o conformismo, a fragilidade, o cansaço, todos juntos ou só alguns, mas jamais o amor. Esse, se foi.
O que abre as portas para o amor entrar é a admiração. A gente ama o que admira. E admira com orgulho o que ama!
Sem admiração, só sobra a indiferença. E indiferença é um sentimento congelante, que engessa e paralisa a parte boa das relações.
Longe de ser uma crítica às relações ditas acostumadas, eu creio fortemente no amor que acorda todos os dias e busca seus motivos de admiração. Acredito no amor que levanta e se enfeita para ser também o objeto de admiração de alguém. Me desanima a ideia de compartilhar a companhia sem uma faísca de admiração.
E, quando a gente vê a admiração se distanciando, a realidade mostrando outra face onde a gente só enxergava a perfeição, o amor que pretendia se instalar, dá meia volta e sai, para tornar mais suave o processo de desapego.
Pena que muitas vezes a gente não ouve a batida da porta e permanece ali, tentando encontrar a menor pista, o mais fraco sinal de admiração, para reaver a presença do amor.
Mas, se ele der mais uma chance, é bom apressar a admiração, buscar na parceria um motivo para valer à pena.
Afinal, admirar, antes de tudo, é ter uma certeza lá dentro, de que o prazer e o interesse pela companhia, serão sempre sinais confiáveis.

segunda-feira, dezembro 19

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Aquele velho bordão do comercial de margarina. A cena perfeita, os sorrisos impecáveis, a felicidade que sequer cabe na tela por onde a gente assiste, comenta, crítica, procura defeitos, enfim, inveja.
Desconfie das relações baseadas na propaganda, na exposição maciça de virtudes e vitórias, são geralmente tão frágeis e ilusórias, que desaparecem de uma hora para outra, sem deixar vestígios, lembranças, saudades nem história.
Não existe vida dentro de um comercial de margarina! Não existe um cartão de crédito que compre a estabilidade de um sentimento, nem uma câmera que consiga registrar as angústias represadas por detrás de uma fotografia perfeita. Nem em Paris!
A exposição em si não é ruim se não se dá importância à privacidade. Tem gente que não gosta mesmo, e tudo bem. Ruim para mim é o marketing pesado, agressivo, vendedor, que não sossega enquanto não convencer a plateia de sua posse e direito sobre a felicidade do mundo.
São as relações tolas que a gente tem que aturar, bater palminha e repetir que o amor é lindo, ainda em nada pareçam com a realidade.
E, com isso, o perigo de nos iludirmos, de nos tornarmos consumidores do modelo perfeito, de olharmos para o nosso modelo e concluirmos que temos pouco, que merecemos mais, que a vida que construímos vale menos, não tem projeção, não é modelo de admiração de ninguém… Aí é que mora o grande perigo.
O apelo é tanto que a gente se confunde.
– Quer a parceria perfeita;
– Sofre para alcançar o padrão imposto;
– Persegue a ideia de ser modelo de admiração…
E, por fim,
– Esquece de quem está junto, na luta, na batalha, na vida fora da tela;
– Desvaloriza o que já alcançou;
– Ignora a maior das lições…
Quanto maior o apelo, menos vale o que está em oferta.
O que tem valor, dispensa propaganda.

domingo, dezembro 18

Dezembro, o mês das catarses

Dezembro é o mês que enche de compaixão os nossos corações, esvazia nossas carteiras e nos faz refletir novamente sobre o sentido da vida. Temos certa dificuldade com fechamentos, finalizações, conclusões.
Quando falamos de algo que gostamos, não sabemos como parar.
Quando comemos, não queremos que acabe.
Quando amamos, não gostamos de nos despedir.
E assim seguimos, com aquele medo velado dos finais, dos términos e rompimentos, da morte. O ciclo natural vai ficando tanto mais assustador quanto mais próximo do final. Somos assim, seres que brigam e magoam com os pontos finais.
E os dezembros são sempre prenúncios de pontos finais. O ano acaba, as reflexões e conclusões transbordam, para uns, que se vá logo! Para outros, como passou rápido…
Dezembro traz em si a imposição da compaixão, as emoções mais delicadas, o sentido de família, o olhar solidário a todos os povos da terra. Dezembro tem esse apelo.
Dezembro é mês de promessas, de votos, de planos, aquisições, ligações e contatos com gente que há muito não frequenta nossos corações. É mês de confraternizações e reencontros. Também de arrependimentos e perdões.
Em dezembro passam os caminhões da Coca-Cola, iluminados e musicais, e ainda que seja um merchandising batido, os corações estão tão amolecidos em dezembro, que a maioria de nós corre para a janela e realmente tentar captar a tal magia prometida.
Dezembro entorpece, hipnotiza. Faz a gente procurar desafetos, desculpar mal feitos, declarar-se exageradamente ao amigo secreto. Dezembro coloca para fora muito sentimentos retidos, faz a gente chorar fácil, rir escandalosamente, olhar os muros e ver poesia em tudo…
…e escassez! Em dezembro é preciso comprar tudo. Para ter, para dar, para guardar, para esperar, para trocar, para o fim do mundo chegar. O desespero de dezembro é impressionante, mas é a expressão de como lidamos com os finais. Finais que são uma fração de segundo e logo tudo já é novo.
E que dezembro seja paciente com toda a catarse que precisamos fazer para sobreviver aos finais. Logo janeiro fará tudo voltar ao normal!

quinta-feira, dezembro 15

Bora perder esse medo de perder o que não é nosso!

Bora devolver para a vida a escolha de juntar ou separar, conceder ou retomar, esclarecer ou confundir.
Há coisas que não são nossas, embora cuidemos com todo o amor do mundo e tentemos proteger das decepções e perigos que nos assustam.
A decisão do outro não é nossa. Nem o gosto, nem os senões, nem sequer a opinião, a dúvida.
A duração de um relacionamento também não nos pertence. Podemos contribuir para a prosperidade desse encontro, mas também, e, na maioria das vezes é o que fazemos, acelerar o processo de desgaste na crença de sermos os proprietários da relação.
O que pensam e concluem a nosso respeito tampouco faz parte da lista dos nossos bens. Tememos perder estima, respeito, autoridade, consideração… Mas nada disso nós temos. É tudo emprestado, consignado, com prazos que se estendem, mas, que também findam, ainda que nos agarremos com força.
Não faz sentido carregar tantos planos, arrastar incertezas, puxar consigo inseguranças e inconstâncias, na crença romântica de ter a posse e o controle dos resultados.
O resultado da vida é a conta que multiplica a coragem que se tem de encarar a realidade, ainda que não seja o que a gente sonhou. E não querer segurar nem prender nada nas mãos, nem na bolsa, nem nas chantagens e atitudes sequestradoras do que é espontâneo e genuíno.
A coação não convence ninguém a ficar por vontade. Nem antes, nem depois. O agrado em demasia não encanta nem seduz, apenas cansa.
Truques, macetes e chantagens só expõem a fragilidade de um investimento condenado ao fracasso.
O que não é nosso, não é necessariamente do outro. Pode ser do encontro, da empatia, do sentimento de união e fortalecimento que nasce. E, às vezes, não vinga, não se torna nosso. É deixar rolar, contribuir, se dar e aprender a libertar! Essa escolha é inteira e felizmente nossa!

quarta-feira, novembro 30

Comece o dia amando mais você!

A cada gesto de amor próprio, uma ilusão se despede. As qualidades que a gente atribui ao outro, são as nossas próprias que a gente quer ver em reciprocidade. E não é sempre que isso acontece. Desilusão é esperar uma troca que jamais acontecerá.
Comece o dia amando mais você! Dessa forma, não será preciso aceitar o mínimo, suplicar o possível, sonhar com o inatingível. Seu amor e seu zelo tornam-se escudos protetores, verdadeiras muralhas que impedem a entrada de sugestões ciumentas, comentários invejosos, dicas mesquinhas, inspirações derrotistas.
Somos amados, sem dúvida alguma. Nem sempre do jeito que desejamos. Quase nunca na intensidade que sonhamos. Raramente por todos os que elegemos. Muitas vezes nos contentamos com o amor idealizado, desculpado, esfarrapado. Mas não ousamos nos amar mais para suprir o que falta.
Comece a tarde amando mais você! Se sobreviveu à manhã de expectativas por novidades e grandes surpresas, e por fim a rotina prevaleceu, comece a tarde em total amor por você!
Despeça-se das promessas vazias, da esperança enfraquecida, da ligação que não recebeu, das desculpas que não interessa mais ouvir.
Ainda somos amados, tantas vezes secretamente, outras aberta e sonoramente! Que valor atribuímos a esses amores? Estarão eles perto demais para que possamos enxergá-los sem a vista embaçar? Seremos nós pessoas que preferem o amor de longe?
Quando a gente se ama mais, aprende a aceitar o amor que nos oferecem.
Comece a noite amando mais você!
Relaxe, descanse, desacelere, deixe as perdas do lado de fora da porta, derretendo no capacho. Sacuda a indiferença, a ingratidão, o orgulho ferido e as desilusões antes de entrar no seu mundo particular. Faça dele o paraíso, ainda que muitas vezes solitário.
É certo que companhia nos faz um bem enorme, mas na falta de uma, não podemos negar a nossa própria e deliciosa companhia a nós mesmos. Se a gente não acha, quem o fará?
Termine o dia amando mais você. Se o dia terminou para você, lembre-se de que é uma pessoa de sorte e muito amada. Não há garantias para o dia seguinte, a hora é agora!

sexta-feira, novembro 25

É possível que eu volte atrás…e não ouse me julgar

É possível que todas as minhas certezas e determinações sejam frágeis e gasosas, embora tenha eu afirmado e confirmado que é o certo, o necessário, o melhor para a vida.
É possível também que eu não tenha resolvido as coisas com você ou comigo como deveria, deixando pensamentos magoados aparecerem vez por outra, permitindo uma série de divagações e senões, se tudo tivesse sido diferente.
É possível ainda que eu esteja aguardando que algo novo aconteça, que me surpreenda e me arrebate, que não demande meu único esforço e já chegue pronto para transformar minha vida.
Tem dias que a gente acorda com coragem transbordando, que a gente toma as famosas decisões do “para sempre” e “nunca mais” com potência nuclear, repetindo seguidamente todos os argumentos que reforçam a conclusão. Tamanha é a vontade de se proteger, de não mais errar, de bloquear e mandar para longe o que possa magoar ou decepcionar.
Somos assim, temos instinto de sobrevivência mas também temos e somos feitos de uma esperança emotiva, que nos apóia quando resolvemos dar aquele passo atrás e tentar sucesso mais uma vez, a despeito do histórico de fracassos.
O controle total e exclusivo das decisões nos coloca em posição ingrata, onde não há troca nem consentimentos. Saber o que é melhor para si é excelente, mas daí a sufocar um gesto espontâneo unicamente por prevenção, sei não…
É possível que os palpites errados sejam maioria, é possível ainda que tenhamos uma forte tendência para encontrar confusão, mas essa é a natureza das lutas, do aprendizado, do que por fim dá gosto e valoriza a boa conquista, a real satisfação.
É possível que, ao olhar para trás e buscar nova tentativa ou recomeço, enfim eu consiga enxergar que o melhor caminho é o futuro.
Tudo é possível!

segunda-feira, novembro 21

Por um amor contagioso, mas nunca infeccioso!

Se é para ter cuidado, se imunizar, contribuir com o destino, incrementar a sorte, que seja por um amor contagioso, vibrante, avassalador, febril. Aquele tipo de amor que revira o estômago, faz o coração perder o compasso e alma sonhar em cores e perfumes.
Um amor contagioso arrebata a vida, acolhe os amigos, é adotado pelas famílias, se integra e espalha, deixando sementes, criando raízes.
Fortalece as relações ao invés de ameaçá-las.
Adiciona seu toque individual e é reconhecido por isto.
Divide interesses, busca os pontos de contato. E se não forem muitos, cria novos, em nome do amor.
O contágio é saudável, a conquista é em doses crescentes, sem exageros nem intervalos demasiado grandes.
Um amor que contagia pela verdade, desde a incubação.
Esse é o amor que a gente espera inocular, inalar, absorver. E esse é o amor que a gente precisa oferecer, se estiver com a imunidade em dia.
O amor infeccioso é um tipo perigoso, que já chega destruindo defesas, separando elementos que antes conviviam bem, enfraquece e abate.
Esse tipo não é raro e geralmente se instala como uma gripe, derrubando todas as defesas.
O amor que infecciona é aquele que maltrata, que não se compadece com a dor, com o sofrimento, com as feridas expostas. Ele fica porque encontrou ambiente confortável, a despeito do mal estar do seu hospedeiro.
E vai minando as forças, se alimentando do que não lhe pertence, comprometendo a integridade e a sanidade de quem caiu de amores e permitiu o contágio.
Se for impossível evitar o amor doente, o contágio e a infecção, que a busca pelo combate à doença e reconquista da imunidade seja uma prioridade, uma real questão de sobrevivência e cura.
Uma vez restabelecidos, estaremos em plena forma para os bons e contagiantes amores que pairam no ar!

sábado, novembro 19

O jardim das amizades. Um oásis entre pedras e desertos.

Vasos, jardineiras, jardins e campos. Amizades plantadas e florescidas!
Amizades são plantas que oxigenam a vida! Enfeitam, nutrem, curam, dão sombra, oferecem frutos e flores!
Amigos são ervas medicinais. Dão por vezes os chás mais amargos e curadores que remédio algum surte efeito igual.
Amigos são flores de beleza rara. Os únicos que conseguem mostrar as verdadeiras cores da vida naquele momento difícil de continuar.
Amigos são temperos frescos que perfumam a vida.
Amigos são árvores frondosas que acolhem e convidam pra gente descansar na sombra.
Amigos são vegetais e hortaliças da melhor qualidade que nutrem e ajudam a manter nossa saúde.
Muitas amizades brotam cedo. E nos acompanham por toda a vida.
Outras, ganhamos de repente, como vasos de flores que nos trazem imensa alegria e nos esforçamos para manter as floradas.
Essa flora diversa de bons amigos exige pouco. Um pouco de água, outro pouco de luz, uma mexida na terra de vez em quando, atenção e carinho.
Se exigirem mais do isso, podem ser plantas daninhas. E cada um sabe o que lhe cabe cultivar.
É nossa responsabilidade manter o frescor e a vida plena das amizades que cultivamos pela vida afora. É trabalho sério, o retorno digno por tanto o que recebemos, que não é pouco.
Ser grato a um amigo é ser também a plantinha que de vez em quando perfuma o seu dia e o faz lembrar da importância dessa amizade.
A terra é boa, o sol é generoso, sementes e água estão disponíveis.
É nossa escolha plantar ou colecionar pedras.

quinta-feira, novembro 17

Não adianta espernear! Em apenas meia hora a vida pode mudar e muito!

Certeza é uma coisa que não nos acompanha. A gente pensa que ela anda de mãos dadas conosco, que gosta de estar por perto, mas não. Certeza é um bicho arisco que não tolera arreios nem coleiras. Anda livre e faz o que bem entende. Volta de vez em quando para beber uma água, comer um pouco e aliviar nossa eterna preocupação.
A certeza é parceira da vida nas questões de futuro. Nenhuma das duas dará pistas sobre o minuto seguinte. Podem, no máximo, concordar com alguns de nossos planos e incentivar as decisões. Mas, se tiverem que virar tudo de cabeça para baixo, não vacilam.
A ausência da certeza, dá lugar a convidados nem tão bem-vindos: E vão chegando pouco a pouco e se instalando sem cerimônias, a insegurança, o medo, as gêmeas: paranoia e neurose, por vezes, a depressão.
Lidar com a falta de certezas pode ser tarefa dolorosa. Queremos respostas definitivas! Precisamos mapear possibilidades e rotas de fuga!
E nos frustramos vez após vez, pois que em meia hora a vida vem e bagunça tudo. E só nos resta reagir ao novo, ao improvável, à situação do momento.
É preciso fibra, coragem, espírito de luta e resistência. A corda bamba da vida balança ainda mais quando nos vê medrosos, vacilantes, inseguros.
Em meia hora a gente recebe uma notícia linda ou um diagnóstico desolador. Em meia hora vem aquela ideia que resolve um super problema ou o banco quebra e leva nossas economias.
Em meia hora a gente decide fazer as pazes ou romper para sempre. Em meia hora o rosto se ilumina com uma presença nova na vida, ou a gente até morre.
A meia hora pode durar um instante ou grande parte da vida e aí vai o mistério que não deixa as certezas fazerem ninho.
Conviver com as meias horas da vida é se abrir para os movimentos que não temos autonomia para fazer sozinhos. Podemos contribuir, devemos lutar, resistir, não entregar o jogo, mas precisamos mais do que tudo, entender que não sabemos onde nem quando vamos chegar.
O foco é o minuto vivenciado, a respiração completa, o coração pulsante e o desejo de mais meia hora, sempre!

terça-feira, novembro 15

Pisaram no meu castelo de areia. E agora?

Sabe aquele sonho que a gente alimenta e acalenta, muitas vezes durante toda a vida, acrescentando elementos, alterando personagens, dando vida e emoções a todos os detalhes cuidadosamente pensados? A nossa novela pessoal onde tudo acontece como achamos que deve ser? Esse sonho é o nosso castelo de areia que onda nenhuma desmancha e chuva alguma leva, porque é muito bem protegido e escondido dos perigos que a realidade oferece.
Isso é o que a gente pensa e quer, a imunidade que também completa o sonho perfeito. Mas de verdade, essa praia é muito mais perigosa e habitada por todos os tipos de intenções e sentimentos. Alguns são cuidadosos, carinhosos, amáveis. Desviam com delicadeza do nosso castelo para não derrubar um grão de areia sequer. Outros, de tão amistosos e parceiros, trazem enfeites e cores para a nossa construção. Chegam a adivinhar o que estamos querendo ou necessitando.
Outros contudo, pouco se importam, ou, de propósito mesmo, passam arrastando os chinelos e derrubando o que estiver na frente. Esses são os insensíveis, os endurecidos, orgulhosos, durões para destruir, covardes só para aparecer.
E o castelinho, embora frágil e temporário, fruto do nosso esforço e capricho, é alvo fácil para quem não tem intenção alguma de construir junto. É presa indefesa para aquela intenção predadora que sente fome de destruição.
E um dia, de fato pisam nele, não só desmontam uma torre, uma ala, mas sim a estrutura toda. Como faz para recomeçar um sonho, um projeto, uma ideologia tão pessoal? Como conviver com duras e magoadas lembranças dessa destruição? Melhor que a onda tivesse levado, que o vento tivesse derrubado, porque assim seria um acidente, a gente pensa. Ruim é saber que há uma culpa, uma intenção oculta.
O bom senso aconselha que a vida sempre segue e a praia é grande e areia não falta. Bora começar novamente, talvez com a lição de que um castelo é coisa demais para vigiar por toda uma vida, com detalhes e tesouros demais para proteger.
Bora buscar um sonho mais simples, mais espontâneo, que inclusive possa ir mudando de forma, de lugar e de importância, à medida que as conquistas forem chegando!
E dessa forma, não haverá pé que chute ou pise o que não consegue alcançar!

segunda-feira, novembro 7

Não me intimide, não me assedie! Seja você quem ou o que for!

Seja por autoridade, por excesso de intimidade, seja por pura maldade ou somente por vaidade… Não me imprense na parede, nas suas neuroses, carências e crenças.
Eu sou livre por natureza, submeto-me somente a mim e, acredite, foram inúmeras as vezes que eu mesma me intimidei. Me intimidei quando tentei agradar sem ser natural, me coagi quando me coloquei em lugares e situações que não desejava, me violentei quando aceitei regras e condições das quais discordava.
E o caminho para reparar e recolocar a vida no lugar é pedregoso, escorregadio. Nesse tabuleiro, a gente anda quatro casas e antes de comemorar, volta duas.
Portanto, não me ameace! Não imponha condições, não me chantageie, não apele para a pena nem para a admiração teatral. Não me force a não ser espontânea.
Não me constranja exigindo escolhas que não tenho intenção de fazer.
Não me culpe nem me responsabilize por eventuais decepções.
Não me assedie com padrões e formatos.
Não me amedronte, não apele para nenhum tipo de covardia…
Lidar com as questões pessoais já é pressão suficiente para qualquer um, e nem todos os dias são iguais; nem sempre estamos dispostos a matar leões, enfrentar depressões, sufocar reações.
Portanto, nem por um minuto me intimide. Não perca seu tempo tentando me acuar, seja você uma pessoa amada, uma amizade considerada, uma parceria de trabalho, um familiar mais autoritário, um sonho acalentado, uma ambição descontrolada.
Não me empurre contra o nada, não me tire da estrada, não seja você a embaralhar as peças do meu jogo.
Assédio, só o da vida me intimando a não recuar!

domingo, novembro 6

Tem amor de sobra? Escoe para onde falta.

Amor é fonte generosa. Multiplica-se, propaga-se, encontra caminhos e maneiras de tocar seu objeto de afeição.
Amor em demasia sempre vem acompanhado daquele apego que gruda, do ciúme que intimida, da dependência que aprisiona. Se há amor sobrando, é preciso escoar, descobrir alternativas, manter saudável o nível e o humor deste amor.
Amor mau humorado resmunga.
Amor em exagero sufoca, afoga, asfixia.
Se já é tarefa árdua tentar equilibrar as trocas de amor, impossível avaliar o que fazer com o amor excedente, o que transborda, que, longe de ser recusado, simplesmente sobra numa relação que não o comporta.
Amor que sobra tem que ser escoado. É imperioso encontrar um caminho diferente, uma forma de distribuição mais justa e coerente, o resgate de afeições esquecidas e carentes desse amor.
Somos seres cercados de amor por todos os lados. Família, amigos, colegas, companhias eventuais, personagens da rotina diária, exemplos, admiradores. Em tudo colocamos ou esperamos amor. Do mais rasteiro ao mais profundo, guardadas as escalas e proporções.

Canalizar para apenas um afeto é sentença de morte e transformação desse amor em outro sentimento, quase sempre oposto. É preciso distribuir, escoar, deixar fluir, sem retenções nem exceções.
Ninguém dá conta de um amor exclusivo e integralmente seu. A oferta faz bem somente para a vaidade, porque na real, esse amor vira um grande e pesado fardo, terminando por ser jogado de lado e trocado por um amor mais leve.
Amor é estrela de várias pontas e quem opta por utilizar a luminosidade de apenas uma em potência máxima, acaba por se sabotar e colapsar o equilíbrio do que deveria ser um sistema claro e justo, queimando e ferindo quem estiver em sua direção.
Quem consegue irradiar amor, não precisa sequer esperar reciprocidade. Ele volta, na medida certa.

Publicado em Conti Outra em 06/11/2016.

sábado, novembro 5

(Des)apontamentos sobre plágios e apropriações…

Não ponha as minhas palavras na sua boca com o intuito de torná-las suas. Nem tampouco nas pontas dos seus dedos com o objetivo de assinar por elas.
Não disfarce meus relatos com parcas e maquiadas frases entrecortadas. O que veio de mim jamais terá a sua identidade.
Não ouse aprisionar meu estilo dentro do seu formato inexpressivo.
Ainda que não reconheça os justos créditos, você sabe e sempre saberá que as ideias não lhe pertecem, que foram roubadas, camufladas, usurpadas.
Não se intitule criatura criativa. Criação é outro ofício. Copiar não é criar. Sequer é se inspirar.
Não omita meu nome, não cole o seu por cima, não faça o papel de papagaio repetidor, não apele, não pense que a impunidade é duradoura, que os elogios lhe pertencem.
Eu expresso o que vivo, o que quero viver, o que observo, o que sonho. Expresse você também, do seu jeito. Não trapaceie, não roube, não engane os que acreditam em você.
Plágio é um troço invejoso e infantil. É como abrir o armário alheio, roubar o que agrada, deixar a porta aberta e as coisas esparramadas, disfarçar com alguns acessórios e sair desfilando na rua, aguardando suspiros de admiração.
Originalidade não aceita disfarce. Qualquer tentativa denuncia o impostor.
Vivemos uma era de reconhecimento de valores, de busca por igualdade de direitos, justiça social, luta contra desigualdades. E se apropriar do que é alheio, sejam palavras, argumentos, sentimentos ou mesmo desejos, fica ainda mais feio e inaceitável.
Para você, pessoa CTRL C/ CTRL V , eu desejo fortemente que encontre e desenvolva suas próprias habilidades, ou, ao menos, reconheça, admire e aproveite as criações alheias sem tomá-las para si. Dê um CTRL Z nas cópias mal feitas que espalhou por aí e mostre ao que veio, o que tem de original e interessante para compartilhar com o mundo!

quarta-feira, novembro 2

Quero meu direito de ser dramática!

Nem sempre, mas às vezes. Quero fazer e viver meu drama, me jogar na cama, passar horas lamentando um recado malcriado, uma unha quebrada ou uma mensagem ignorada.
Não quero ser sempre equilibrada, bem resolvida, analisada. Quero o direito de viver minhas reações, entender minha emoções, sucumbir às tentações e me arrepender de decisões.
A busca pelo equilíbrio é injusta. O mundo anda desequilibrado. Tem momentos em que um gemido vale bem mais do que uma longa explicação, um choro sentido alivia enormes tensões, e aquele desabafo repetitivo acaba por fazer sentido e acalma o coração.
O drama é uma forma exagerada, lamentosa, dolorida de vivenciar certas questões. O drama pertence mais às mulheres, embora muito homem saiba fazer drama como ninguém.
O drama dá peso, forma e consistência para um problema. Personifica, divide-se em capítulos, episódios, com avanços e retrocessos.
Quem faz o drama busca representar a intensidade do seu caso. Os exageros ganham licença poética para os dramáticos. É simplesmente impossível fazer um drama sem exageros e floreios.
O drama busca atenção. Quando estou dramática, estou carente. E quando estou carente, quero chamar a atenção de alguém. Uma equação de fácil resolução e, com alguma generosidade da parte que assiste, nenhuma repercussão.
O ser dramático opta por sofrer mais, por reter a dor por mais tempo, por detalhar em minúncias um ocorrido e sentir cada etapa em intensidade máxima.
Mas, e se for dessa forma que o ser dramático resolve suas questões, e segue em frente? Que obrigação temos de ser igualmente racionais, resolvidos, silenciosos e equilibrados?
Quero e exijo o meu direito de ser dramática, de viver minhas novelas mexicanas pessoais, de me despedaçar, emocionar, exagerar, decepcionar.
Quero acima de tudo, o direito de lidar com o que me chega, do jeito que sei, para aprender a transformar os dramas em êxitos, caminhos e soluções. E que cada um faça do seu jeito!

terça-feira, novembro 1

A zona de conforto torna a vida uma zona!

Acabou-se o que era doce. Ou, adoçado, artificialmente, amargando no final. Zona de conforto é uma zona perigosa, um cobertor áspero e embolorado, embora quente.
As boas ideias não frequentam as zonas de conforto. Grandes realizações tampouco.
Zona de conforto é aquela janela que se abre justo quando os mosquitos estão querendo entrar. Ela traz um ar refrescante a princípio, mas logo depois começam as picadas e o desconforto.
Está tudo bem, no lugar e na rotina? Então está tudo mal, está uma zona! Assim que acontecer uma minima alteração, a menor besteira, a reação vai ser catastrófica, exagerada, desequilibrada. A zona de conforto faz isso, embota aquele alerta que a gente tem, aquela reação ninja de escapulir de uma cilada arranjada, uma pernada mal dada, uma pedrada lançada.
Confortável é a luta diária, cada conquista, cada meta alcançada, cada minuto vivido. As frustrações são importantes para a valorização dos êxitos. O jogo é de ganha e perde, e o ato de amadurecer conversa diretamente com essa capacidade de enfrentar derrotas e comemorar vitórias, sem arrependimentos nem humilhações.
A zona de conforto nos mantém nenéns. Quando nela, fazemos biquinho, colocamos o dedo na boca, abrimos o berreiro e soltamos as maiores malcriações se contrariados.
A vida contraria e quem quer aproveitar, vê vantagem até nisso.
Quem não quer, senta e chora.
Acordar todos os dias e escolher que emoção queremos como companhia, como desejamos nos sentir, o que nos move e qual caminho tomar. Isso é desafiar a zona de conforto, o tédio, o medo de encontrar um mundo maior e diverso.
Sair da zona de conforto é somente um primeiro passo, mas, tão grande e importante, que, ao atravessar essa etapa, será impossível voltar. Um novo caminho se desenhará.

quarta-feira, outubro 26

Vivemos um tempo em que tempo é mais caro do que dinheiro

Precisamos de um tempo. Queremos tempo para escolher o que queremos. Não temos tempo para o que importa. Mal chegamos onde queremos e já temos que dar meia volta e retornar.
Estamos ligados, criativos para produzir dinheiro, maleáveis com as tarefas, perseguidores implacáveis dos prazos, multitarefas, multifacetados, multimídias, multiprofissionais. Mas o tempo não se multiplica. Não atrasa. Nem sequer aguarda.
Temos recursos variados, mas não temos o tempo. Somos seres eternamente atrasados, apressados, assoberbados.
Não há mais tempo para uma conversa sem pretensão, um café da manhã demorado, um passeio no meio da manhã, uma ligação, um suspiro relaxado.
Nossos dedos se adaptaram a digitar em telas minúsculas numa velocidade incrível, mas nosso coração ainda sofre descompassado com a urgência de tudo o que temos para cumprir num único dia.
O tempo não se ressente, nem tem preferências. É justo e passa igualmente para todos. Temos dificuldade em perceber as oportunidades diárias. Se o tempo custasse dinheiro, por certo o valorizaríamos mais, lutaríamos por ele, tentaríamos em vão armazená-lo em cofres e propriedades.
Vivemos para morrer. Sem perceber, a maioria de nós só pensa em construir conforto e estabilidade para enfrentar bem a morte. Enquanto isso, o tempo vai indo, abrindo seu caminho e trazendo de fato as renovações de ciclos e gerações.
Quanto custa uma hora do seu tempo? Por quanto me venderia se eu a quisesse comprar? Quantas horas você se permitiria, sem nada produzir nem lucrar? Só apreciando a passagem do tempo, na companhia escolhida, um pouco mais pobre no banco, um tanto mais cheio de vida…
A falta de tempo é amiga da taquicardia, do bruxismo, dos tiques e espasmos.
A vida moderna assume essa culpa, mas não mostra o antídoto.
Se queremos viver em comunhão com o tempo, está na hora de desacelar e respirar!

terça-feira, outubro 25

Não percamos tempo elaborando disfarces

Espontaneidade não se ensaia, cultura não se finge, preconceito não se esconde, gosto realmente não se discute.
Jamais será possível corresponder a todas as expectativas alheias, e nossos processos e falhas por vezes serão expostos e julgados, muito embora por juízes não credenciados nem sequer considerados.
Disfarçar dificuldades não é uma arte, não é uma habilidade. Ao contrário, pode ser uma corda perigosa se enrolando a cada disfarce em volta do pescoço, que, em um instante, pode ser violentamente puxada.
O desespero de ocultar razões para críticas e reprovações, acaba por nos fazer reféns de disfarces e máscaras.
Admitir ignorância a respeito de determinado assunto, confessar dificuldades em lidar com certas questões, respeitar e guardar distância de diversas animosidades, nada disso nos desvaloriza, como equivocadamente costumamos supor.
O que realmente nos deixa vulneráveis, frágeis e vergonhosamente expostos é o esforço tolo de encobrir e disfarçar os traços que formam a nossa identidade. Viramos caricaturas, nos tornamos seres obtusos, vigilantes, sempre alertas para não revelar um momento de contradição que possa nos trair.
É o uso do tempo de vida em favor da opinião e julgamentos alheios, desprezando o desfrute próprio, as conquistas escolhidas, as coisas bobas boas da vida, ainda que o vizinho não aprecie, o alvo da paquera despreze, a família não valorize, o mundo rejeite por questões de padrões e embalagens.
Disfarces são caros, nos custam o fôlego, a espontaneidade, a individualidade. A aceitação de nós mesmos, em contrapartida, é que nos permite enxergar, carregar e sentir necessidade de mudar nossas convicções, preferências e dificuldades.
Cuidemos pois, de cuidar e lustrar nossa versão original e única, valorizando o que o tempo ensina.
As camuflagens só servem para quem deseja viver entrincheirado nos desejos da ilusória perfeição.

terça-feira, outubro 18

Que dívida é essa que a gente insiste em cobrar da vida?

Gratidão é palavra do momento, especialmente quando as coisas dão certo e estão perfeitas aos nossos olhos, julgamentos e anseios. Então divulgamos a dádiva a plenos pulmões, compartilhamos o êxito e vibramos com o merecimento.
O que era para ser um um gesto natural, obrigatório para as consciências conectadas com o fluxo da vida, anda um tanto exacerbado. De todas as formas, melhor a gratidão ruidosa do que a sua gêmea má que nada agradece.
Mas, como nem tudo são flores e gratidões, nem vitórias, nem conquistas, difícil mesmo é ser grato às frustrações pelas oportunidades de enxergar um outro caminho, uma nova perspectiva.
Nessa hora a gente pega a fatura vencida e apresenta para a vida, como o filho mimado que corre chorando para dentro de casa com o brinquedo quebrado, exigindo a compra de outro, como se não fosse sua escolha levá-lo para brincar na rua.
A maioria de nós ainda age assim. Cobra da vida uma dívida que ela não tem conosco. Ataca a sorte, responsabiliza as circunstâncias, amaldiçoa o acaso, exige garantia infinita contra perdas, danos, terceiros e eventualmente, si próprio.
A gratidão se recolhe no meio da fatura tão grande e impagável emitida contra a vida dos que julgam possuir o passe exclusivo, a chave da sala vip onde nenhuma contrariedade é permitida.
Mas, assim como o tempo, a vida não dá bola para nossas tolas lamentações, e, frustrados e mimados que somos, como não conseguimos atingir a verdadeira culpada, vamos para outras direções, e então distribuímos sem economia o nosso mal humor, pessimismo, irritação, impaciência, raiva e todos os derivados e agregados que engrossam o time das frustrações.
Quando a gente aprende que a vida não nos deve nada e as escolhas são passíveis de fracasso, as contas são perdoadas, as dívidas caducam, as culpas se eximem e se transformam em gratidão consciente e libertadora.

Publicado em Conti Outra em 18/10/2016.

domingo, outubro 16

Despedida de um amor

Vou-me embora da sua vida. Vou hoje, sem demora. Uma decisão calculada, conclusiva, bem pensada. Vou-me embora da sua vida, aliviar o peso que você carrega, liberar a sombra que te roubo, devolver o espaço que ocupo.
Vou-me embora para me preservar, para te poupar, para nos afastar, para poder pensar, sentir saudades ou alívio, solidão ou euforia, liberdade ou arrependimento. Vou para ouvir o meu silêncio, entender meus desejos, separá-los da confortável rotina, deixar que sintam frio e medo, que digam o que realmente querem de mim e para mim.
Se você não puder esperar, prossiga. Eu vou porque por perto não entendo o que preciso. Vou para saber de que lado sofro e de que lado me aconchego.
Vou-me embora da sua vida para viver um pouco só. Vou testar as inseguranças e desproteções que tanto se teme. Ou descobrir minha fortaleza e independência, que viviam trancafiadas nas crenças da fragilidade.
Posso me arrepender, e se isso acontecer, não terei medo de lhe dizer. O maior medo que passo é hoje, a decisão de romper com o que já conheço e acabei por me acostumar.
Mas não quero somente me acostumar. Nem que se acostume comigo. Quero outra dimensão de vida, de surpresas, emoções e descobertas. Quero isso para mim e também para você.
Não sei se é pedir demais. Na verdade, o único pedido que tenho é que você não me queira por perto enquanto eu precisar ficar longe.
Vou-me embora da sua vida porque a confundi com a minha própria e isso não é jeito de se viver. Não te culpo, não me culpo. Só estou indo porque não saberia como ficar sem me entender.