terça-feira, dezembro 27

Se despedir bem é mais importante do que impressionar ao se apresentar

As primeiras impressões são fortes, reveladoras, mas não são nem de longe as que ficam. O convívio muda tudo, rearruma, bagunça, junta ou despedaça.
A imagem de um primeiro encontro é, sem dúvida, lembrança de cor mais nítida, mas cabe aos encontros seguintes alimentar ou deixar morrer a primeira impressão.
E, afinal, a gente vê o que está sentindo na ocasião. A gente acessa o que tem disponível no momento. Não é uma postura ou uma palavra que nos darão o juízo de uma apresentação, e sim como estamos receptivos ou não ao novo que está sendo apresentado.
Se apresentar bem é um excelente começo, mas realmente é só o começo, e o caminho é tão longo quanto profunda pretende ser a relação.
Agora, as despedidas… Quase sempre deixam tanto a desejar, tanto a resolver, tanto a perguntar. E ao contrário de uma chegada, a despedida é intenção de um final, um rompimento.
Poucas são as pessoas que incluem despedidas dignas nas suas vidas. Menos ainda são as que fazem desse ultimo contato, um ato cordial.
Por que as catarses, desabafos, verdades contidas, humilhações e revelações são guardadas para as despedidas?
Por que deixar uma impressão tão desapontadora ao sair de uma vida? E, pior, por que não levar em conta um possível arrependimento? Como engolir tantas palavras e agressões depois de ditas e lançadas?
Se despedir bem não é para qualquer um. Implica em olhar nos olhos e prestar justificativas, ainda que desconfortáveis; obriga a encarar mais uma vez quem não se quer ver nunca mais; ordena que as ofensas sejam caladas e faz com que se deseje um futuro melhor a quem não foi um bom presente.
Mas essa é a boa e a verdadeira despedida. Fora disso, somente tentativas infantis de deixar borrões na vida alheia.

Os vilões que nos apontam caminhos. Gratos por eles!

Tem gente que sem saber nos faz enorme bem. Sem querer, literalmente. A intenção poderia ser das piores, disfarçada de uma ironia, um toque de covardia… Era para machucar, marcar, carimbar.
Mas, para quem sabe como a banda toca e, ao invés de reclamar do barulho do bumbo, aproveita para dançar, pega a intenção no ar e já a transforma em vantagem para não cair de novo na mesma armadilha.
A ação dos vilões vem sem avisar. De repente, num encontro, o jogo começa e, num lance bem rápido, já está lançada aquela afirmação, a pergunta camuflada de inocência, as reticências que deixam lacunas para a imaginação preencher.
Isso é coisa que pega qualquer um de sobressalto. Os rápidos já reagem e devolvem a jogada; os prudentes analisam; os sensíveis sofrem; os raivosos rebatem.
Mas o que não se pode negar é a experiência conquistada com esse momento tão insuportável. No final das contas, alguém tentando nos fazer perder o rebolado, acaba mostrando caminhos que jamais pensaríamos se estivéssemos nos deleitando na zona de conforto. O momento é sempre ruim, mas o depois é ótimo!
Esses vilões que se nutrem do desconforto alheio, tentam ocultar o seu próprio desconforto de maneira muitas vezes velada, fingida, disfarçada. Noutras, com atitude rude, debochada, irônica.
A tentativa de dar a rasteira vem com tudo, mas, como toda força que,disparada em potência máxima não encontra nenhum obstáculo que a retenha, a tentativa de derrubar também perde força e razão quando não recebe o que esperava de retorno.
Os vilões que apontam caminhos são tão úteis quanto tolos, e, para eles, nossa inteira gratidão pelo tempo dedicado ao nosso aprendizado.
E, se a carapuça serviu, customize do seu jeito e reveja as atitudes! Somar é sempre melhor do que dividir.

sábado, dezembro 24

Não se iluda, ninguém é tanto assim!

Ninguém é tão feliz quanto faz parecer, nem tão confiante quanto alardeia, tampouco tão atraente como acredita ser. E ninguém é tão infeliz quanto pensa ser, nem indiferente ou sensível, sequer influente ou desprezível. Ninguém é tanto assim.
Os superlativos tem sido usados sem critério, talvez movidos pelo desejo intenso de destaque ou exclusividade. E acredite se quiser, tem gente que enfatiza até mesmo o que deveria passar a vida combatendo.
Quem nunca ouviu ou disse algo recheado de “mais”, “demais” e até “absurdos”? Mas mais do que o que? Mais do que quem? Mais de quanto?
E para que serve essa corrida louca para se distanciar da faixa do aceitável, do comum, do que justamente facilita a desigualdade e dissipa a desunião?
Que mania louca é essa de construir trampolins cada vez mais altos e inacessíveis, somente para os poucos que se arriscam a obter notoriedade por seu foco em ser mais do que o outro? E depois do pulo, não estamos todos na mesma piscina?
Estamos ensinando nossas crianças a serem mais do que precisariam ser. Estamos convocando a competição em todos os momentos e setores da vida.
E todos sabemos que ninguém é tanto assim. É bom não ser demais. É ótimo ser simples. Realizar tarefas complexas, ok. Alcançar grandes objetivos, também. Mas não é preciso ser tanto assim. Torna-se chato para a platéia, cansativo, antipático.
Bom é fazer, realizar, festejar, comemorar e descansar. Sem alardear!
Quem está junto já sabe o valor.
Quem não está, não precisa saber.
E na dúvida, é bom lembrar que aquela dor de barriga, quando vem, não livra nem quem é tanto assim.

quinta-feira, dezembro 22

Não tem como amar sem admirar. Não mesmo!

Um grande e recorrente contra senso é a gente achar que ama uma pessoa que a gente nunca admirou ou não admira mais. Como poderia? Como acreditar que o amor pode ser tão incoerente que permanece em um lugar onde não se sente confortável e alimentado?
Claro que há milhões de relações onde a admiração mútua há muito já partiu, mas nesse caso, ao menos nas minha crenças, já não é mais o amor que habita a casa. Pode ser a preguiça, o conformismo, a fragilidade, o cansaço, todos juntos ou só alguns, mas jamais o amor. Esse, se foi.
O que abre as portas para o amor entrar é a admiração. A gente ama o que admira. E admira com orgulho o que ama!
Sem admiração, só sobra a indiferença. E indiferença é um sentimento congelante, que engessa e paralisa a parte boa das relações.
Longe de ser uma crítica às relações ditas acostumadas, eu creio fortemente no amor que acorda todos os dias e busca seus motivos de admiração. Acredito no amor que levanta e se enfeita para ser também o objeto de admiração de alguém. Me desanima a ideia de compartilhar a companhia sem uma faísca de admiração.
E, quando a gente vê a admiração se distanciando, a realidade mostrando outra face onde a gente só enxergava a perfeição, o amor que pretendia se instalar, dá meia volta e sai, para tornar mais suave o processo de desapego.
Pena que muitas vezes a gente não ouve a batida da porta e permanece ali, tentando encontrar a menor pista, o mais fraco sinal de admiração, para reaver a presença do amor.
Mas, se ele der mais uma chance, é bom apressar a admiração, buscar na parceria um motivo para valer à pena.
Afinal, admirar, antes de tudo, é ter uma certeza lá dentro, de que o prazer e o interesse pela companhia, serão sempre sinais confiáveis.

segunda-feira, dezembro 19

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Aquele velho bordão do comercial de margarina. A cena perfeita, os sorrisos impecáveis, a felicidade que sequer cabe na tela por onde a gente assiste, comenta, crítica, procura defeitos, enfim, inveja.
Desconfie das relações baseadas na propaganda, na exposição maciça de virtudes e vitórias, são geralmente tão frágeis e ilusórias, que desaparecem de uma hora para outra, sem deixar vestígios, lembranças, saudades nem história.
Não existe vida dentro de um comercial de margarina! Não existe um cartão de crédito que compre a estabilidade de um sentimento, nem uma câmera que consiga registrar as angústias represadas por detrás de uma fotografia perfeita. Nem em Paris!
A exposição em si não é ruim se não se dá importância à privacidade. Tem gente que não gosta mesmo, e tudo bem. Ruim para mim é o marketing pesado, agressivo, vendedor, que não sossega enquanto não convencer a plateia de sua posse e direito sobre a felicidade do mundo.
São as relações tolas que a gente tem que aturar, bater palminha e repetir que o amor é lindo, ainda em nada pareçam com a realidade.
E, com isso, o perigo de nos iludirmos, de nos tornarmos consumidores do modelo perfeito, de olharmos para o nosso modelo e concluirmos que temos pouco, que merecemos mais, que a vida que construímos vale menos, não tem projeção, não é modelo de admiração de ninguém… Aí é que mora o grande perigo.
O apelo é tanto que a gente se confunde.
– Quer a parceria perfeita;
– Sofre para alcançar o padrão imposto;
– Persegue a ideia de ser modelo de admiração…
E, por fim,
– Esquece de quem está junto, na luta, na batalha, na vida fora da tela;
– Desvaloriza o que já alcançou;
– Ignora a maior das lições…
Quanto maior o apelo, menos vale o que está em oferta.
O que tem valor, dispensa propaganda.

domingo, dezembro 18

Dezembro, o mês das catarses

Dezembro é o mês que enche de compaixão os nossos corações, esvazia nossas carteiras e nos faz refletir novamente sobre o sentido da vida. Temos certa dificuldade com fechamentos, finalizações, conclusões.
Quando falamos de algo que gostamos, não sabemos como parar.
Quando comemos, não queremos que acabe.
Quando amamos, não gostamos de nos despedir.
E assim seguimos, com aquele medo velado dos finais, dos términos e rompimentos, da morte. O ciclo natural vai ficando tanto mais assustador quanto mais próximo do final. Somos assim, seres que brigam e magoam com os pontos finais.
E os dezembros são sempre prenúncios de pontos finais. O ano acaba, as reflexões e conclusões transbordam, para uns, que se vá logo! Para outros, como passou rápido…
Dezembro traz em si a imposição da compaixão, as emoções mais delicadas, o sentido de família, o olhar solidário a todos os povos da terra. Dezembro tem esse apelo.
Dezembro é mês de promessas, de votos, de planos, aquisições, ligações e contatos com gente que há muito não frequenta nossos corações. É mês de confraternizações e reencontros. Também de arrependimentos e perdões.
Em dezembro passam os caminhões da Coca-Cola, iluminados e musicais, e ainda que seja um merchandising batido, os corações estão tão amolecidos em dezembro, que a maioria de nós corre para a janela e realmente tentar captar a tal magia prometida.
Dezembro entorpece, hipnotiza. Faz a gente procurar desafetos, desculpar mal feitos, declarar-se exageradamente ao amigo secreto. Dezembro coloca para fora muito sentimentos retidos, faz a gente chorar fácil, rir escandalosamente, olhar os muros e ver poesia em tudo…
…e escassez! Em dezembro é preciso comprar tudo. Para ter, para dar, para guardar, para esperar, para trocar, para o fim do mundo chegar. O desespero de dezembro é impressionante, mas é a expressão de como lidamos com os finais. Finais que são uma fração de segundo e logo tudo já é novo.
E que dezembro seja paciente com toda a catarse que precisamos fazer para sobreviver aos finais. Logo janeiro fará tudo voltar ao normal!

quinta-feira, dezembro 15

Bora perder esse medo de perder o que não é nosso!

Bora devolver para a vida a escolha de juntar ou separar, conceder ou retomar, esclarecer ou confundir.
Há coisas que não são nossas, embora cuidemos com todo o amor do mundo e tentemos proteger das decepções e perigos que nos assustam.
A decisão do outro não é nossa. Nem o gosto, nem os senões, nem sequer a opinião, a dúvida.
A duração de um relacionamento também não nos pertence. Podemos contribuir para a prosperidade desse encontro, mas também, e, na maioria das vezes é o que fazemos, acelerar o processo de desgaste na crença de sermos os proprietários da relação.
O que pensam e concluem a nosso respeito tampouco faz parte da lista dos nossos bens. Tememos perder estima, respeito, autoridade, consideração… Mas nada disso nós temos. É tudo emprestado, consignado, com prazos que se estendem, mas, que também findam, ainda que nos agarremos com força.
Não faz sentido carregar tantos planos, arrastar incertezas, puxar consigo inseguranças e inconstâncias, na crença romântica de ter a posse e o controle dos resultados.
O resultado da vida é a conta que multiplica a coragem que se tem de encarar a realidade, ainda que não seja o que a gente sonhou. E não querer segurar nem prender nada nas mãos, nem na bolsa, nem nas chantagens e atitudes sequestradoras do que é espontâneo e genuíno.
A coação não convence ninguém a ficar por vontade. Nem antes, nem depois. O agrado em demasia não encanta nem seduz, apenas cansa.
Truques, macetes e chantagens só expõem a fragilidade de um investimento condenado ao fracasso.
O que não é nosso, não é necessariamente do outro. Pode ser do encontro, da empatia, do sentimento de união e fortalecimento que nasce. E, às vezes, não vinga, não se torna nosso. É deixar rolar, contribuir, se dar e aprender a libertar! Essa escolha é inteira e felizmente nossa!