quinta-feira, março 19

Os monstros que nos espreitam




O monstro da crise mundial, das tarifas bancárias, da recessão, depressão, solidão, ingratidão;
O monstro da balança, da calça apertada, do excesso de gostosura;
O monstro da vaidade, do ciúme, da indignação, do inconformismo;
O monstro dos cabelos brancos, das rugas, da celulite, do papinho;
O monstro dos caprichos não atendidos, da contrariedade, do desprezo, da indiferença;
O monstro dos sonhos desfeitos, do arroz queimado, do troco errado, do calo pisado;
O monstro que a gente inventa, acalenta, alimenta, ostenta, sustenta... É o monstro que mostra pra gente que tem lado monstro e tem lado gente.
Os monstros fazem visitas, moram pra sempre ou dormem juntinho... depende do quanto a gente é carente, inconsciente ou é conveniente.
Tem monstro que faz careta, tem monstro que mostra a saída, tem monstro que quer geladeira, tem monstro que quer nossa vida. E vida é coisa de gente, não tem monstro que a mereça.


terça-feira, março 3

Sr. consumiDOR, anote o número de seu protocolo


Protocolo é a sua garantia ... de que a dor de cabeça está apenas começando, nunca duvide disso!
Tem coisas na vida que doem na gente. Saudade dói, injustiça dói, calo dói, mas lidar com a dupla incompetência-indiferença, MATA! Mata de raiva, de indignação, de irritação, de desconfiança. Uma vez assisti ao Pedro Cardoso num monólogo em que ele jurava que todas as atendentes de SACs eram uma só e diabolicamente iam minando a paciência e o bom senso dos consumiDORes... ele encenava um surto enquanto era atendido pela diaba de mil nomes... foi hilário, tão absurdo quanto divertido.
Hoje finalmente eu entendí o espetáculo do Pedro Cardoso. E tudo começou com um OI.
-Em que podemos ajudá-la?
-Oi, eu gostaria de reativar meu serviço de internet, pois acabo de ser informada que meu serviço foi cancelado por não haver viabilidade técnica, o que não é verdade, pois que já sou consumiDORa de sua companhia.
-Pois não Senhora, me confirme alguns dados por favor: nome, cpf, endereço, nome do cão, quantidade de plaquetas, número do calçado...
-... 36 forma grande.
-Ok, obrigada pelas informações, só um minuto pois meu sistema está apresentando LENTIDÃO!
-Sim (música tã nã nã, longos minutos)
-Senhora, obrigada por ter aguardando, mas precisei reiniciar o sistema, pode me confirmar os dados novamente?
-...36 forma grande.
-Ok, agora sim, aguarde um minuto pois vou estar gerando um número de protocolo para a senhora, que é a garantia deste atendimento.
-Mas esse protocolo protocola o que? Posso ver o que você escreveu aí? Você sabe o que eu falei, mas não sei o que você escreveu.
-Senhora, não tenho FERRAMENTAS para que a senhora visualize o que escreví, mas vou estar lendo para a senhora: consumiDOR adquiriu serviço de telefone móvel no plano fale 230 e...
-Não!! eu solicitei serviço de internet!
-Senhora, lamento informar mas seu endereço não possui viabilidade técnica para instalação deste serviço.
-Como não possui? Eu era cliente de vocês até ontem! Compreendo senhora (compreende coisa nenhuma, esse é o código que vocês usam para me dizer: bem feito, otária), mas aqui temos uma mensagem do departamento técnico avisando que não há viabilidade em seu endereço.
-Posso falar com o departamento tecnico então?
-Não senhora, eles não têm ramal lá (Putz, essa foi de jogar a cadeira no espelho).
-Não? E e-mail ? msn? orkut? facebook?
-Nada, senhora.
-Mas será que o departamento técnico abriga algum humano?
-Isso eu não sei informar senhora, mas creio que haja alguém lá.
-Ah, já me sinto bem melhor. Me deu até vontade de abraçar um amigo.
-Senhora, como eu dizia, alguns endereços não possuem viabilidade técnica.
-(E muitos atendentes não possuem cérebro). Sei, mas você pode então me explicar como eu utilizava o serviço até esse cancelamento inesperado? Seria eu uma condutora natural de conexão e transmissão de dados?
-Senhora, posso estar colocando uma observação no seu cadastro para avaliação técnica.
-Ah, por favor!! Faça isso. Como é o seu nome mesmo?
-Edvaldo, senhora.
-Obrigada, eu gosto de anotar os nomes de quem me atende, é um tipo de coleção, entende?
-Claro senhora (como se isso fosse adiantar, tola). Pois não senhora, aguarde alguns instantes por favor.
-Sim, mas não coloque a musiquinha, por piedade, Edvaldo. Eu mesma canto.
-Como a senhora quiser (Nisso, o consumiDOR tem razão).
-...
-...
-Senhora, me desculpe pela demora, anote o número do seu protocolo 9274746346364434634 .. anotou?
-Claro, e eu ía perder a melhor parte?
-Mais alguma coisa senhora?
-Sim Ed, pode ler para mim a observação que você colocou para o departamento técnico que não tem ramal, mas existe?
-Pois não senhora, vou estar lendo agora mesmo: A consumiDORa não concorda com o laudo de inviabilidade técnica que acarretou na interrupção do serviço sem prévio aviso, pensa que sabe mais do que nós, acha que enchendo meu saco vai conseguir alguma coisa, não tem idéia de quanto números de protocolo vai ter que anotar e, para completar, acha que eu digitei qualquer baboseira que ela tenha falado.
Beijo Brasil, desculpa mãe, desculpa pai! Eu agí com o coração.

domingo, março 1

Meu prato caiu!


Tenho uma aventura gastronômica para contar hoje: Sabe aquela sexta feira bege, em que a gente se dá conta de que tem que fazer algo diferente para semana toda ter valido à pena? Não que o carnaval não tivesse bastado, não que todos os planos e esperanças para um futuro próspero e farto não sejam suficientes para nos incentivar, mas tem sempre aquele dia em que a gente já acorda naquele fogo de transgredir a rotina, de fazer algo diferente, surpreendente...
Então, esse dia chegou e não foi preciso muitos argumentos para unir quatro criaturas em busca de uma aventura gastronômica buscando a excelência em qualidade de alimentos orgânicos-vitais-energéticos-salve,salve-e tudo mais. Mas uma observação: Eram quatro, mas duas estavam mais assanhadas - elas agora fazem e consomem o suco de semente germinada, daí a excitação. Uma estava desconfiada, mas topou. A quarta foi por falta de opção, mas mesmo assim foi e, quando chegou, optou e foi para outra "proposta".
Ficaram três, já instaladas e agitadas, devorando o cardápio, olhando para os lados, buscando a condição de : à vontade, como era de se esperar. Bem, seguindo a nossa "vontade", fizemos as escolhas do cardápio, um tanto hesitantes, pois embora a maioria dos ítens fosse conhecida, havia uns que ninguém ousava perguntar o que era. Ninguém não, uma perguntou: O que é isso? - Bem, isso é isso feito aqui mesmo na casa. - Ah sim, obrigada. Então eu quero isso.
Pedidos feitos, é só aguardar. Olha aquela cantora !!! noooosssaaaa... tá magra né? e que roupa é aquela? Mas ela poooode. Viu? ela frequenta o restaurante... deu uma passadinha rápida, coisa chique, só podia ser orgânica. Leblon, Manoel Carlos, tudo aquí é bom!
Chegaram os pratos, que apresentação caprichada! Dava pena de mexer e estragar a apresentação, mas como a gente veio para comer e a fome estava impiedosa, bon apetit!!
Primeira garfada...troca de olhares.
Segunda garfada... alguém diz: - interessante.
Terceira...- ainda não entendí a proposta.
Quarta... - as folhas estão murchas né? - Ah, que nada, é que viemos tarde...
E a decepção sentou na cadeira que estava sobrando e ficou olhando pras três, esperando mais comentários.
O ditado popular garante: A fome é o melhor tempero. Nem ela aliviou dessa vez. Alguém já se encantou de comer cenoura crua, dura, sem tempero? Nem uma farofinha pra misturar.
- Encontrei o molho de girassol !!!! Uma exclamação animada, depois de uma longa jornada pelo prato, diversas camadas de pão e alguns ingredientes não identificados.
- Pelo menos é gostoso?
- É, é muito bom. Vou até comer a outra banda, a que eu pretendia levar para minha mãe (e aproveitar a ocasião para dizer a ela obrigada por cozinhar tão bem e não saber fazer esse prato tão sem graça quanto caro).
- Já acabou, Emilia?
- Não, estou comendo rápido pra não perder o rítmo, não esmorecer.
- Como se corta essa cenoura que parece um pau de canela? Está crua!
- Mas se são alimentos vivos, estão crus.. e chateados com a gente.
- Corta assim ó ...um movimento forte e poderoso.. uma machadada só.
- Tem semente no meu suco!
- Ih, não bebe não! Isso entope as paredes intestinais?
- Sério??? Então porque puseram?
- Mas tá molinha.. dá pra mastigar.
- Eu preferia semente de abóbora tostada com cerveja. Será que tem cerveja aqui? Pra ajudar a descer.
- Gente, vamos combinar, a comida está uma droga. Tá, é uma droga limpinha porque é orgânica, mas pelo-amor-de-Deus! Vamos mudar de assunto, tem Mc Donalds aqui perto? Só uma casquinha.
- Olha, valeu. Não valeu, mas valeu. A fatura do cartão é válida.
- Vamos pra onde agora? Vamos passear, andar (procurar um Mc Donalds)... vamos conversar sobre como foi preciso comer um quilo de cenouras para derrubar um mito, para até sonhar em ter um restaurante com um temperinho bom, para desconfiar das super-ultra-mega-modas e provar que o gosto de uma fatia não é o gosto do todo.
Meu prato caiu!