domingo, março 1

Meu prato caiu!


Tenho uma aventura gastronômica para contar hoje: Sabe aquela sexta feira bege, em que a gente se dá conta de que tem que fazer algo diferente para semana toda ter valido à pena? Não que o carnaval não tivesse bastado, não que todos os planos e esperanças para um futuro próspero e farto não sejam suficientes para nos incentivar, mas tem sempre aquele dia em que a gente já acorda naquele fogo de transgredir a rotina, de fazer algo diferente, surpreendente...
Então, esse dia chegou e não foi preciso muitos argumentos para unir quatro criaturas em busca de uma aventura gastronômica buscando a excelência em qualidade de alimentos orgânicos-vitais-energéticos-salve,salve-e tudo mais. Mas uma observação: Eram quatro, mas duas estavam mais assanhadas - elas agora fazem e consomem o suco de semente germinada, daí a excitação. Uma estava desconfiada, mas topou. A quarta foi por falta de opção, mas mesmo assim foi e, quando chegou, optou e foi para outra "proposta".
Ficaram três, já instaladas e agitadas, devorando o cardápio, olhando para os lados, buscando a condição de : à vontade, como era de se esperar. Bem, seguindo a nossa "vontade", fizemos as escolhas do cardápio, um tanto hesitantes, pois embora a maioria dos ítens fosse conhecida, havia uns que ninguém ousava perguntar o que era. Ninguém não, uma perguntou: O que é isso? - Bem, isso é isso feito aqui mesmo na casa. - Ah sim, obrigada. Então eu quero isso.
Pedidos feitos, é só aguardar. Olha aquela cantora !!! noooosssaaaa... tá magra né? e que roupa é aquela? Mas ela poooode. Viu? ela frequenta o restaurante... deu uma passadinha rápida, coisa chique, só podia ser orgânica. Leblon, Manoel Carlos, tudo aquí é bom!
Chegaram os pratos, que apresentação caprichada! Dava pena de mexer e estragar a apresentação, mas como a gente veio para comer e a fome estava impiedosa, bon apetit!!
Primeira garfada...troca de olhares.
Segunda garfada... alguém diz: - interessante.
Terceira...- ainda não entendí a proposta.
Quarta... - as folhas estão murchas né? - Ah, que nada, é que viemos tarde...
E a decepção sentou na cadeira que estava sobrando e ficou olhando pras três, esperando mais comentários.
O ditado popular garante: A fome é o melhor tempero. Nem ela aliviou dessa vez. Alguém já se encantou de comer cenoura crua, dura, sem tempero? Nem uma farofinha pra misturar.
- Encontrei o molho de girassol !!!! Uma exclamação animada, depois de uma longa jornada pelo prato, diversas camadas de pão e alguns ingredientes não identificados.
- Pelo menos é gostoso?
- É, é muito bom. Vou até comer a outra banda, a que eu pretendia levar para minha mãe (e aproveitar a ocasião para dizer a ela obrigada por cozinhar tão bem e não saber fazer esse prato tão sem graça quanto caro).
- Já acabou, Emilia?
- Não, estou comendo rápido pra não perder o rítmo, não esmorecer.
- Como se corta essa cenoura que parece um pau de canela? Está crua!
- Mas se são alimentos vivos, estão crus.. e chateados com a gente.
- Corta assim ó ...um movimento forte e poderoso.. uma machadada só.
- Tem semente no meu suco!
- Ih, não bebe não! Isso entope as paredes intestinais?
- Sério??? Então porque puseram?
- Mas tá molinha.. dá pra mastigar.
- Eu preferia semente de abóbora tostada com cerveja. Será que tem cerveja aqui? Pra ajudar a descer.
- Gente, vamos combinar, a comida está uma droga. Tá, é uma droga limpinha porque é orgânica, mas pelo-amor-de-Deus! Vamos mudar de assunto, tem Mc Donalds aqui perto? Só uma casquinha.
- Olha, valeu. Não valeu, mas valeu. A fatura do cartão é válida.
- Vamos pra onde agora? Vamos passear, andar (procurar um Mc Donalds)... vamos conversar sobre como foi preciso comer um quilo de cenouras para derrubar um mito, para até sonhar em ter um restaurante com um temperinho bom, para desconfiar das super-ultra-mega-modas e provar que o gosto de uma fatia não é o gosto do todo.
Meu prato caiu!

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