quarta-feira, abril 27

Memórias de uma mini viagem - Finalmente, o final.



- Bom dia amiga, dormiu bem?
- Mé(r)dio, e você?
- Como um bebê!
- Não sei como você consegue. Estava falando, falando e de repente, puf. Dormiu.
- Eu fiquei rolando, rolando.
- Mas você já está pronta para sair?
- Pois é, acordei cedo, encarei logo aquele musgo do box, abrí a janela, cumprimentei os pombinhos! Tudo muito bucólico. A fome é que está animalesca.
- Ah, então vou me arrumar tartarugamente rapidinho e a gente desce para tomar o café da manhã.
- Tá, vai logo.

tic, tac, tic, tac
tic, tac, tic, tac
tic, tac, tic, tac

- Amiga, você dormiu?
- Não, que nada, só um cochilinho. Vamos?
- Vamos, tô com fome também.

- É essa porta de bar de faroeste?
- Acho que é, entra.
- Bom dia!
- Bom dia, bom dia, bom dia, bom dia, bom dia, bom dia.
- Amiga, três casais e nós duas, quanto constrangimento.
- Todos com aquelas carinhas safadinhas.
- E nós, com carinhas de empadinhas.
- Estão olhando para nós, achando que somos casal também.
- Posso falar bem alto pra você: Amorrrr, quer uma banana?
- Se você fizer isso, eu te mato!
- Aí vai ser crime passional, com testemunhas.
- Cala a boca e toma o café pra gente sair daqui logo.
- Acho que eu vou pegar na sua mão, só pro povo gostar.
- Não me toca!
- Ah, você arranja esse lugar onde a garagem é uma caverna, no box há vários fósseis, os pombos fazem côco no parapeito da janela e o café da manhã é praticamente uma reunião de lua de mel e não quer deixar nem eu brincar um pouco!
- Brinca com seu sanduiche. E vamos embora logo.
- Chata.
- Come o mamão também.

- Amiga, foi engraçado lá no café.
- Vamos pular essa parte. Está tudo no carro? A gente não volta aqui. Vamos na Florália e depois para Itaipava. De lá a gente desce pro Rio.
- Deixa eu ver. Mala da amiga, mala da amiga, compras da amiga, compras da amiga e minha mochila. Está tudo sim.
- Então vamos.
- Tchau caverna! Amiga, eu queria levar cerveja Cidade Imperial para o meu genro. Como é daqui, acho que tem em qualquer birosca. Vamos comprar antes?
- Vamos. A gente para o carro no centro, comprar e segue.
- Sim, bem.

- Então, fui no supermercado, na padaria, no açougue, na farmácia, na loja de 1,99 e não tem nenhuma cerveja Cidade Imperial. Que coisa! Esse povo não bebe ou o que?
- Amiga, vamos procurar mais um pouco.
- Não, deixa. Eu compro no Zona Sul lá perto de casa.
- Ah, cretina! Se tem lá, porque essa palhaçada de comprar aqui?
- Nem eu sei, mas valeu pelos biscoitos que a gente comprou para levar. Não reclama, dirige bonitinha aí.
- Agora vamos na florália.
- Eu conheço uma Rosália.

anda, anda, anda
pergunta, pergunta, pergunta
sobe, sobe, sobe
ainda sobe
pergunta

- Sério, moço?
- É sim senhora, a florália não existe mais há uns bons anos. Compraram a propriedade.
- Ah, que pena. Obrigada então.
- Amiga, tá ficando velha héin.
- Cala a boca, coloca o cinto. Vamos para Itaipava. O Castelo a gente vai visitar hoje.

anda, anda, anda
anda, anda, anda

- Vamos direto pro Castelo, depois a gente passeia mais.
- Nãooooo! Vamos parar no mercado do produtor, tô com fome, por favor!
- Tá, vamos. Um pastelzinho não mata ninguém.
- Nem uma cervejinha.

- Nossa, como está cheio.
- É, me atraquei com o menino que serve para conseguir dois bolinhos.
- E aqui tem cerveja Cidade Imperial. Só de raiva, vou beber uma. Escura, por favor.
- Vamos ver a feirinha de orgânicos?
- Vamos.

- Amiga, nã acredito que você está levando cebola como lembrança da viagem.
- Ah, só aproveitei para fazer uma comprinha.
- Então, faz mercado logo.
- Não, vamos agora para o castelo.

- É pra cá?
- Não sei, acho que é pra lá.
- Vamos perguntar?
- Não, eu vou lembrar.
- A gente já passou por aqui.
- Quantas vezes? Mais de seis?
- Acho que sim. Moçooooo! Pra que lado fica o castelo.
- Pra lá. A senhora vai toda a vida medoooooo e quando chegar no quebra molas, vira a esquerda.
- Obrigadaaaaaa! Poxa, amiga. Você nem deixou eu agradecer direito. Tão bonzinho o moço.
- Eu conheço essa sua cara, vamos.

anda, anda, anda
anda, anda, anda
anda, anda, anda

- É lá, olha! Tá vendo a torre?
- Tô vendo!
- Vamos para a entrada! Você vai amar o castelo.
- Oi, bom dia senhor! Queremos visitar o castelo.
- Não vai dar não, está fechado?
- Como assim, fechado?
- Está fechado, vai ter um evento de moda aqui dentro. Estão montando.
- Ah, eu trabalho com eventos, posso entrar?
- A senhora trabalha nesse evento?
- Não.
- Então, não.
- Ah, moço, por favor! Minha amiga veio do Piauí, só para ver esse castelo.
- Não vai dar.
- Uma foto então?
- Só daqui de fora.
- Poxa moço.
- Até logo, voltem outro dia.

- E a gente ainda vai ter que passar de novo por essa ponte medonha.
- Se você gritar como fez na vinda, eu abro a porta e te jogo.
- E se você falar em mais algum lugar que eu vim do Piauí, vou jogar fora as bombas de chocolate que estão derretidas no banco de trás!
- As bombas da minha mãe!
- Agonizando. Melhor a gente aliviar o sofrimento delas.
- Não toca nas bombas! Olha a ponte!
- Ai, sacanagem. Que medo! Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii..
- Para de gritar!
- Já passou?
- Já estamos quase na estrada. Vamos parar aqui para comprar uns tapetinhos.
- Amiga, tapete?
- São lindos, sempre que venho compro alguns.
- A mulher dos mil e um tapetes. Vou comprar um pro meu cachorro.
- Não fala na loja que é pro cachorro.
- Por que? Cachorro não merece?
- Fica chato.
- Chato é ver tapete. E não ver castelo.
- Vai ser rapidinho, vamos.


- Amiga, não acredito que passamos duas horas em uma loja de tapetes.
- Não foi só pelos tapetes, o papo estava bom. É importante se relacionar.
- Bem, agora quero me relacionar com a Casa do Alemão, pode ser?
- Você só pensa em comida.
- E bebida.

- Nossa, como está cheia.
- É a final da copa.
- Vamos torcer pra quem?
- Pro garçom ser rapido.

come, come, come.
bebe, come, bebe.

- Amiga, agora coloca o cinto e vamos voltar para casa!
- Ah, que pena, foi tão divertido.
- Foi mesmo, adorei.
- Acho que vou escrever as memórias dessa viagem.
- Foi tão rapidinha, vai faltar assunto.
- Você acha?

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