E tem aquele momento de uma pergunta simples, nada
comprometedora, um direto sim ou não, mas a criatura resolve: depende.
De outra, uma decisão difícil, envolvendo afetos e mágoas,
urgente de se resolver, essencial para sobreviver, e novamente: prefiro não
opinar.
E assim continua: não gostaria de me envolver, não tenho
conhecimento suficiente, nem experiência, nem vontade, motivação, consciência,
posicionamento, opinião.
O pato ensaboado é escorregadio, ágil, excelente nas saídas
furtivas e experiente em expressões vazias.
O pato ensaboado gosta que tomem decisões para ele. Não quer
se responsabilizar nem pela quantidade de açúcar no cafezinho. Jamais será sua
culpa, e em igual proporção, nunca terá mérito. Mas isso não importa e ele.
O pato ensaboado desfila pela vida, frequenta suas
sociedades, mas não se liga a nada nem a ninguém. Seu pavor perante às
responsabilidades é proporcional à velocidade com que consegue correr para
longe de uma decisão.
Os patos ensaboados, quando em família, se esforçam, até
levantam uma ou outra questão, mas no momento do embate, da calorosa discussão,
não há quem consiga capturá-lo.
Nas relações afetivas, prefere sempre deixar a decisão para
a outra parte. Seja da escolha de uma sobremesa, ou se irão se divorciar.
No trabalho, está sempre pronto a concordar e elogiar as
ideias dos colegas, pretendendo se manter o mais invisível possível, para que
não seja chamado a opinar, criticar, provocar.
O pato ensaboado se blinda até dele mesmo, talvez temendo
que qualquer confissão em voz alta se volte contra ele.
Temos muitos momentos de pato ensaboado na vida, e nada de
anormal nisso, já que somos muito mais ignorantes do que sábios, e, por
inseguranças e incertezas, muitas vezes preferimos calar.
Momentos são aceitáveis, vistos até como humildade, mas, se
ao voltar ao estado normal de conforto para expressar opiniões e ideais, e não
acontecer de nos enxaguarmos e voltarmos a ser palpáveis e tocáveis, muita
atenção! Podemos estar nos transformando em patos ensaboados, daqueles que não
estão com nenhuma disposição para contribuir, que ninguém consegue alcançar.
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