quarta-feira, março 23

A gente ama o que sente, não o que vê

Não existe por do sol bonito apreciado por olhos infelizes.
A gente ama o que sente num lugar. A gente ama o que sente na presença de outra gente. A gente ama o que sente num olhar.
A gente não ama o belo nem o agradável só aos olhos. A gente ama a beleza que emana do outro. E tudo fica belo e perfeito.
Os olhos são os radares, mas não ousam a posição de sensores. A beleza encanta.
Mas o que a gente ama, é de outro modo que a gente vê. É um modo único, particular, reservado. A lente que fotografa as memórias mais caras, perpetua o que a gente vê e também o que sente, aspira, suspira, eterniza.
Olhar por olhar é só apreciar. É um instantâneo agradável. É belo, mas passa. A polaroid que apaga com o tempo.
Apreciar um filhote dormindo, nosso ou de qualquer outra espécie, desperta amor. A gente vê a beleza através desse amor. Enrugadinho, careteiro, bochechudo, não importa, quem enxerga é o amor. E nessa lógica tudo se enquadra e se encaixa… Imperfeições, assimetrias, diferenças, pouco que sobra, muito que falta, o amor enxerga com gentileza e generosidade.
O que a gente vê aguça, instiga. É bom.
O que a gente ama, aninha, conforta, dá colo, faz o por do sol aparecer a qualquer hora e em qualquer lugar.
Olhar faz bem, admirar, ainda mais.
Mas amar, amar faz a gente enxergar grandes e deliciosas belezas, que a olho nu jamais se revelariam.
A gente ama o que sente, não o que vê.
Publicado em Conti Outra em 23/03/2016

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