quarta-feira, novembro 4

A tirania do hábito e a liberdade para as borboletas

É difícil viver à revelia, sem algumas regras, horários, repetições? Sim, extremamente difícil. A gente se perde fácil, se desorganiza, se atropela, esquece prioridades e viaja nas “desnecessariedades”. Isso porque não há um norte, nada para guiar nem contestar nem nos frear.
Todo mundo precisa de um mínimo de orientação para o dia, para a casa, o trabalho, para a vida. E esse mínimo é particular, cada qual sabe do seu.
Pouco adianta levantar as bandeiras da liberdade integral e querer a todo custo se libertar de horários e convenções, porque definitivamente não funciona. E não funciona de cara, naquele momento em que você sai de casa e vai comprar o pão, mas a padaria está fechada porque o padeiro resolveu ter o mesmo direito que o seu, à liberdade de só fazer o que bem entender. Há regras a seguir, melhor que joguemos a favor delas.
Tenho uma amiga que vez por outra tira um dia e o chama de: liberdade para as borboletas. E ela nem telefone atende. É encantadora a maneira como ela cultiva esse dia, curtindo tudo o que quer fazer, passeando, comendo em lugares diferentes, conversando com as pessoas… ela realmente consegue a mágica de se desligar do hábito e entrar no mundo das borboletas. O problema é sair dele, mas isso já é outro assunto.
Já eu, sou escrava do hábito, assumida, chateada por nem poder contestar o título que carrego. Sou totalmente ligada em horários, não atraso nunca, faço o dia render ao máximo e descompenso quando algo me tira da rotina. Bom para mim? Não, bom para o meu trabalho, bom para quem me aguarda pois não os faço esperar, bom para a organização da casa em que vivo, bom para meus gatos que estão sempre bem atendidos, mas… é muito hábito para pouca vida, é muita produção para pouca diversão, muito resultado para pouca paixão.

O hábito é um tirano. Ele pega uma pessoa e a transforma em máquina. Maquina de fazer repetições. O hábito é um bruxo. Ele transforma as tarefas em desafios, o tempo em inimigo, as pausas em culpa, os anseios em frescura.

O hábito coloca a gente dentro da roda de um hamster e continua a dizer: – Faça tudo da mesma maneira, ou a roda parará e você não saberá mais como agir.
Por tempos eu acreditei nisso, mas agora, mais velha, vejo-me apegar um pouquinho mais pela teoria das “borboletas” de minha amiga. Neste momento, estou tentando fazer um acordo com o tirano. Cumpro o necessário e ele me libera para curtir o inesperado!

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