Dezembro é o mês que enche de compaixão os nossos corações,
esvazia nossas carteiras e nos faz refletir novamente sobre o sentido da vida.
Temos certa dificuldade com fechamentos, finalizações,
conclusões.
Quando falamos de algo que gostamos, não sabemos como parar.
Quando comemos, não queremos que acabe.
Quando amamos, não gostamos de nos despedir.
E assim seguimos, com aquele medo velado dos finais, dos
términos e rompimentos, da morte. O ciclo natural vai ficando tanto mais
assustador quanto mais próximo do final. Somos assim, seres que brigam e magoam
com os pontos finais.
E os dezembros são sempre prenúncios de pontos finais. O ano
acaba, as reflexões e conclusões transbordam, para uns, que se vá logo! Para
outros, como passou rápido...
Dezembro traz em si a imposição da compaixão, as emoções
mais delicadas, o sentido de família, o olhar solidário a todos os povos da
terra. Dezembro tem esse apelo.
Dezembro é mês de promessas, de votos, de planos,
aquisições, ligações e contatos com gente que há muito não frequenta nossos
corações. É mês de confraternizações e reencontros. Também de arrependimentos e
perdões.
Em dezembro passam os caminhões da Coca-Cola, iluminados e
musicais, e ainda que seja um merchandising batido, os corações estão tão
amolecidos em dezembro, que a maioria de nós corre para a janela e realmente
tentar captar a tal magia prometida.
Dezembro entorpece, hipnotiza. Faz a gente procurar
desafetos, desculpar mal feitos, declarar-se exageradamente ao amigo secreto.
Dezembro coloca para fora muito sentimentos retidos, faz a gente chorar fácil,
rir escandalosamente, olhar os muros e
ver poesia em tudo...
...e escassez! Em dezembro é preciso comprar tudo. Para ter,
para dar, para guardar, para esperar, para trocar, para o fim do mundo chegar.
O desespero de dezembro é impressionante, mas é a expressão de como lidamos com
os finais. Finais que são uma fração de segundo e logo tudo já é novo.
E que dezembro seja paciente com toda a catarse que
precisamos fazer para sobreviver aos finais. Logo janeiro fará tudo voltar ao
normal!
Nenhum comentário:
Postar um comentário