sexta-feira, março 25

A triste síndrome do pato ensaboado

E tem aquele momento de uma pergunta simples, nada comprometedora, um direto sim ou não, mas a criatura resolve: depende.

De outra, uma decisão difícil, envolvendo afetos e mágoas, urgente de se resolver, essencial para sobreviver, e novamente: prefiro não opinar.

E assim continua: não gostaria de me envolver, não tenho conhecimento suficiente, nem experiência, nem vontade, motivação, consciência, posicionamento, opinião.

O pato ensaboado é escorregadio, ágil, excelente nas saídas furtivas e experiente em expressões vazias.

O pato ensaboado gosta que tomem decisões para ele. Não quer se responsabilizar nem pela quantidade de açúcar no cafezinho. Jamais será sua culpa, e em igual proporção, nunca terá mérito. Mas isso não importa e ele.

O pato ensaboado desfila pela vida, frequenta suas sociedades, mas não se liga a nada nem a ninguém. Seu pavor perante às responsabilidades é proporcional à velocidade com que consegue correr para longe de uma decisão.

Os patos ensaboados, quando em família, se esforçam, até levantam uma ou outra questão, mas no momento do embate, da calorosa discussão, não há quem consiga capturá-lo.

Nas relações afetivas, prefere sempre deixar a decisão para a outra parte. Seja da escolha de uma sobremesa, ou se irão se divorciar.

No trabalho, está sempre pronto a concordar e elogiar as ideias dos colegas, pretendendo se manter o mais invisível possível, para que não seja chamado a opinar, criticar, provocar.

O pato ensaboado se blinda até dele mesmo, talvez temendo que qualquer confissão em voz alta se volte contra ele.

Temos muitos momentos de pato ensaboado na vida, e nada de anormal nisso, já que somos muito mais ignorantes do que sábios, e, por inseguranças e incertezas, muitas vezes preferimos calar.

Momentos são aceitáveis, vistos até como humildade, mas, se ao voltar ao estado normal de conforto para expressar opiniões e ideais, e não acontecer de nos enxaguarmos e voltarmos a ser palpáveis e tocáveis, muita atenção! Podemos estar nos transformando em patos ensaboados, daqueles que não estão com nenhuma disposição para contribuir, que ninguém consegue alcançar.



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