domingo, fevereiro 26

A vida está com mais pressa do que nunca

Passa como um trator por cima das horas, indecisões, dos suspiros e divagações.
Se você se sente confortável alimentando dúvidas e ponderações como quem vai todos os dias à praça para oferecer milho aos pombos, é bom lembrar que a vida passará tão tediosamente quanto essa rotina escolhida.
Se, por outro lado, você está confiante em pegar a vida no laço, fazer dela o que planeja e sonha, é possível que ela corresponda na mesma intensidade ou até mais, portanto, é importante ter onde se segurar quando os trancos vierem.
A vida responde às nossas provocações, mas vem com pressa, com urgência, e não costuma tolerar intenções desgovernadas, blefes, ameaças ou trotes. Bem tratada e respeitada, sorri e retribui sorrisos. Enganada, não há quem a alcance e a faça mudar de rumo.
Pense bem na aposta que está fazendo com a vida. Ela como parceira, corre para você; Como rival, te atropela.
A pressa é estratégica. Ela passa voando, nada a faz parar. Quem souber aproveitar, desfrutar, multiplicar, sequer vai sentir a velocidade. Quem preferir arrastar, frear, deixar no ponto morto, provavelmente irá carregar o peso do tempo nos ombros.
Em algum lugar da vida de cada um de nós há uma amizade, um afeto, uma figura do passado, de algum lugar distante precisando muito de um pouco da vida que podemos oferecer. E se, ao invés de tentarmos inutilmente brecar o tempo, nós o usarmos para esses resgates, reaproximações, companhias e recordações? A vida sabe o quanto isso é importante e nos brinda com momentos inesquecíveis.
E, por fim, se ela pudesse nos dar dicas de como aproveitá-la melhor, certamente diria para largarmos para trás o tempo gasto com futilidades e inutilidades, e nos agarrarmos nos mágicos momentos de convivência e troca com quem amamos e admiramos.
Aí sim, a vida vem e oferece uma garupa na sua moto, para a aventura de passar pelo tempo com muita vida!

sábado, fevereiro 25

Ensine para a sua solidão qual é o lugar dela

A solidão não se comporta bem nos encontros. Fale por ela antes que seja tarde. Ela tem necessidade de justificar sua condição, por vezes tímida, acuada, mas, em outras, até mesmo agressiva e mal educada.
Podemos ser solitários, mas jamais seremos somente isso. Solidão é uma condição complementar, não primária. Se ela tomar a voz em todas as decisões, acabará por nos soterrar e nos fazer dignos de piedade.
Todo mundo tem uma parcela de solidão na vida. Passatempos solitários, opiniões solitárias, sonhos, principalmente sonhos, adoravelmente solitários. Solidão não é virtude nem defeito. Só que é perigosa porque quer crescer e tomar um lugar e uma voz que nos afasta de tudo e todos.
É bacana conviver amistosamente com a solidão, Por vezes é melhor companhia e ainda nos conforta e aquieta. Mas jamais pode ela nos afastar do que precisamos ou queremos.
Quando a solidão encontra a carência, ela devora. Se for com a indiferença, ela repele. Com o amor – e por mais que ela tenha vontade de se entregar – ela vacila. Sabe que pode vir a ser o seu fim. É hora de entrar em cena e tomar o controle das decisões. O amor chega, pede para ficar, mas dificilmente entra em luta com a solidão.
Amor é janela aberta, solidão é portão trancado. Se não se passa sequer do portão, jamais se saberá a vista que a janela oferece.
Mas, por gratidão ou educação, é sempre bom lembrar as contribuições da solidão em cada vida. Momentos únicos para tentar decifrar os códigos de convivência, instantes de lembranças mágicas, ideias nascidas do silêncio. Má a solidão não é. Um pouco devoradora, talvez.
Se estiver bem educada e ensinada a ter seu próprio lugar, as chances de que cresça além da conta diminuem muito, e, com sorte e um pouco de amor, é possível que ela ignore as ameaças à sua sobrevivência e se transforme em outra coisa, uma pequena e saudável escapada, por exemplo.

quarta-feira, fevereiro 22

E se a dedicação evolui para sufocamento?

Era tão fofo aquele cuidadinho inesperado, um bilhetinho no meio dos papéis, o chocolate preferido, a mensagem displicente durante o dia…
Até que começaram as questões. Por que não há reciprocidade? Será que não é suficiente?
Então a dedicação avança mais um passo e passa a tentar controlar horários, porções, conversas, intenções. Quer adivinhar, se antecipar, surpreender, invadir, se apoderar.
Essa é a dedicação que saiu do compasso, perdeu o encanto, virou escrava. Tanto se deu que já nem sabe porque tanto faz. E sufoca, incomoda, constrange.
Dedicação que evolui para sufocamento é resfriadinho que vira pneumonia. O tratamento é longo, agressivo e pode deixar sequelas.
Cuidar do outro é gostoso. Se deixar cuidar é melhor ainda. Mas, se não há medidas, a coisa sai do controle. Sempre haverá um controlador e um mimadinho, um tirano dedicado e um folgado escorregadio. Sem equilíbrio, a dedicação vira obrigação. Ou, sufocamento.
Tem gente que não gosta de mimos. Talvez porque não goste de os oferecer. Tem gente que gosta surpreender o tempo todo. Mas aguarda também a sua vez.
Importante é entender que tipo de relação se tem. E que dose de dedicação soma forças. Muitas vezes, deixar livre é mais saudável do que fazer várias interferências diárias, marcar território, se fazer lembrar.
É importante ser esquecido um pouco. É saudável não estar o tempo todo transitando nos pensamentos alheios. Senão a saudade não vem, o falta que não faz falta.
Todo mundo gosta de marcar seu território, deixar um pedacinho seu, uma assinatura. Porém, isso só funciona se a dose for muito bem calculada e espaçada. Caso contrário, a dedicação perde a paciência e parte para o sufocamento. E essa é uma das mortes mais dolorosas de uma relação.

segunda-feira, fevereiro 20

Quem te pede tempo, jamais devolverá

Quem precisa dispor, além do seu próprio tempo, do tempo alheio para pensar, decidir, ponderar, comparar, se encorajar, jamais devolverá ou compensará o tempo dedicado.
Quem te pede tempo, te rouba momentos. Quem te coloca na fila de espera, não te tirará de lá. Quem alega confusão e desorientação, rouba um tempo que não lhe pertence.
Quem pede ao seu tempo que se converta em paciência e compreensão, busca segurança que jamais oferecerá de volta.
O tempo controlado é o tempo escravizado, aguardando uma decisão, um veredito, um rompimento definitivo.
Não disponibilize seu tempo como moeda de troca, crendo nos pontos extras que poderá obter. Quem te pede tempo, pede na verdade um meio de deixar esfriar o que ainda está quente e é mais difícil de lidar.
Não aposte suas fichas no tempo que se arrasta enquanto a espera esmaga uma esperança após a outra. Tempo é separação homeopática. É uma tentativa infantil de despertar uma decisão sem maiores explicações.
Quem te pede tempo, pede mais do que isso. Pede espaço, pede distância, pede silêncio.
E, se quem te pediu tempo voltar, não trará consigo o tempo mastigado e mal digerido. Trará sim uma atmosfera de incertezas e insegurança. Talvez outro tempo seja necessário em breve. E o tempo vai passando…
Quem te pede o que não pode te devolver, te pede que faça concessões em vão, por egoísmo, vaidade ou covardia. Tempo para refletir. Tempo para decidir. Tempo para se encontrar. Tempo para esfriar.
Cuide do seu tempo com carinho. Não o ofereça a ninguém, não se coloque em posição passiva, não aceite condições de passatempo.
A tentativa de viver o tempo do outro é a mais triste forma de matar o tempo que se tem para viver em plenitude! Não dê tempo, dê um até qualquer dia! E a vida segue no ritmo do tempo que lhe pertence.

sábado, fevereiro 18

Gente que já acorda jurando que não fará concessões

 E começa o dia quebrando a promessa, porque a rotina é feita de cessões, concessões e negociações, para que, minimamente, se consiga algum êxito.
De nada adiantam a atitude superior e a carranca fechada, as exigências descabidas, as vias sem saída e as vontades mimadas. No máximo, cansam e afastam quem poderia contribuir para algumas soluções do dia.
Gente que se enxerga como o ponto focal, que desconsidera o espaço e valor alheios, que pega a primeira cadeira de qualquer lugar sem se incomodar com quem vem atrás. Gente que acha que conceder é sinal de covardia, que confunde arrogância com personalidade forte, e apresenta total falta de cortesia como seu cartão de visitas.
Gente que crê merecer sempre mais e melhor… do que os outros.
Tem gente que vive desse jeito, que não para para observar os movimentos e mudanças do mundo, das pessoas, dos comportamentos e relações. Gente que parou no tempo da realeza, que embora nada tenha de nobre, insiste em viver como tal.
A vida é dura para toda essa gente. Sem nenhuma noção colaborativa nem solidária, se perdem no oceano de reclamações e protestos quanto ao seu direito de exclusividade e prioridade. Sofrem com a ideia de compartilhar espaços, direitos, ideias e conquistas.
Se trancam na fortaleza reforçada de certezas e asperezas, solitários e mal humorados, prometendo em vão que jamais farão concessões.
E a vida vai passando, por vezes sorrindo, outras nem tanto, mas mudando sempre o caminho e as possibilidades dos encontros e uniões.
Por detrás das grades, gente que até queria seguir a vida, mas, por não fazer concessões, não encontra mais meios de se encaixar nem de seguir o ritmo. Gente que engessou as chances de ir adiante, por conta de um orgulho infantil.
E, por fim, para mudar essa história, só mesmo arrebentando as correntes, quebrando as juras, se misturando no mundo e perdendo o medo de ser gente como a gente. Qualquer gente.

quinta-feira, fevereiro 16

A lei do galinheiro

A lei do galinheiro dita que as aves que estão no poleiro de cima fazem o que bem desejam sem se importar com o que acontecerá no poleiro de baixo.
Não é uma lei tão desconhecida nossa, embora não sejamos galos nem galinhas enclausurados num cercado de arame.
O curioso é ver como essa lei tão sem lei é aplicada na vida da gente, e ainda mais triste, muitas vezes por quem a gente ama e admira. E, por costume ou resignação, vamos trazendo conosco a desvantagem de viver nos andares inferiores, aguardando o que nos cai na cabeça.
A lei do galinheiro não é justa, não é boa, não é educativa.
Mas ela existe nas relações de amor. Ela existe e é forte, a ponto de ser quase imperceptível e aceita como normal, principalmente nas relações de dominação.
Ela também existe nas relações profissionais, muitas vezes evoluindo ao status de rinha. Nas relações de amizade, onde há mais obediência do que companheirismo. Nas relações familiares, com vários níveis de poleiros e vários galos a disputar o mais alto.
Por fim, uma lei tão desprezível e revoltante, se aplica a muitas situações que sequer desconfiamos e vamos convivendo, achando normais os detritos que caem sem nosso consentimento, como os desrespeitos, os preconceitos, os julgamentos hipócritas, as mais loucas interferências e intervenções.
Mas, se a gente consegue identificar uma condição dessas, é hora de aplicar a lei da igualdade, mesmo que a duras penas (sem trocadilhos). A lei do galinheiro não é justa nem mesmo para galinhas e galos, e não seria portanto, melhor para nós.
Sempre será momento de lutar pelo próprio espaço, pela própria voz e por respeito, independente do tipo de relação e das regras a ela aplicadas. Regras e leis só são boas quando são justas para todos.
A lei do galinheiro existe porque ainda é aceita como válida por muitos de nós. Para cair, basta alinhar os poleiros.

terça-feira, fevereiro 14

Se fazer presente dispensa presentes

Receber uma ligação, uma mensagem, uma surpresa, de forma inesperada, impensada, inusitada. Alguém se fazendo presente, batendo na porta da nossa vida, trazendo a notícia de uma saudade carinhosa e com pressa de ser resolvida.
Eis aí um enorme presente. Uma lembrança declarada, espontânea, destemida, pronta para ser compartilhada.
A lista de afetos é enorme, o tempo é curto, a vida é louca. Mas a saudade ignora tudo isso e aperta quando já não cabe mais na casinha onde vive. E cada um sabe o quanto expande e encolhe a sua saudade.
Tem saudade diária, que quer só cumprimentar, para se fazer presente. Tem saudade que aguenta um pouco mais, que se esconde por trás da rotina e deixa a semana toda passar, porque não sabe como se infiltrar.
Tem saudade que só desperta de vez em quando, que vive mais adormecida, mas ainda assim é saudade. Tem a saudade de uma vida, que vive escondida, na forma daquele aperto no peito, sem coragem de sair.
E saudade não se resolve com presentes. Saudade só se acalma com presença.
Se fazer presente é demonstração de amor, de amizade, companheirismo, sintonia. O tempo não colabora, mas também não pode ser responsabilizado. Presença se demonstra de muitas maneiras.
Em tempos de tecnologias múltiplas, as ausências ficam cada vez mais notórias. E não há presentes que dispensem ou substituam o que a saudade mais suplica: a simples presença.
Uma palavra, uma mínima lembrança, um rabisco, bilhetinho, até o emotion do diabinho. Tudo vale na tentativa de substituir a saudade pela presença.
Quase sempre, é somente disso que todos nós precisamos em algum momento do dia. E, com toda certeza, o dia será mais feliz!
Se estiver em débito com alguma saudade, não mande presentes, se faça presente!